18/11/2005

Quando eu

Quando eu não te tinha,
amava a Natureza
como um monge calmo a Cristo
Agora amo a Natureza
como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo,como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo pelos campos até a beira dos rios;
Sentado ao teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor...
Tu não me tiraste a natureza...
Tu mudaste a Natureza
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, por tu me escolheres para teter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as coisas. Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda sou.

(Alberto Caeiro )

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