05/06/2005

"O HOMEM, ESSE DESCONHECIDO"

O Dr. Alexis Carrel escreveu: "... É preciso erguermo-nos e caminhar. Libertarmo-nos da tecnologia cega, e realizar na sua complexidade e riqueza, todas as nossas virtualidades. Pela primeira vez na história do mundo, uma civilização, ao atingir o começo do seu declínio, pode discernir as causas da sua doença. Talvez saiba servir-se desse saber, e evitar, graças à maravilhosa força da ciência, o destino comum a todos os grandes povos do passado. O nosso destino está nas nossas mãos. Precisamos de seguir avante pelo novo caminho".
Sempre acreditei nos homens da ciência. Esse livro do Dr. Alexis Carrel deveria ser lido, estudado, inúmeras vezes, por todo e qualquer ser humano. Precioso, sob todo ponto de vista, esse estudo do Homem e da sua fraqueza. Sim, da sua fraqueza. Que somos nós? Que sabemos de nós? Qual o nosso preparo mental? Lendo livros como esse, onde um sábio esmiúça delicadamente os nossos problemas, é que sentimos a necessidade de repetir:
- De fato, a nossa ignorância é muito grande.
O mundo, apesar de todo o seu progresso, continua infeliz porque não sabemos nada a nosso respeito, não atingimos ainda o suficiente preparo mental para dominar satisfatoriamente as nossas paixões e resolver de um modo digno todos os nossos problemas. O mundo material - esse mundo terrível da máquina - não é o mundo que devemos desejar. Há algo mais forte, mais belo, mais extraordinário, do que o mundo exterior. É o nosso Ego, é o Homem, somos Nós, os desconhecidos... O homem, apesar do conforto de que hoje desfruta, sente-se esmagado pela força destruidora da matéria inerte. Não podemos deixar de reconhecer os altos progressos da Química, da Física, das Ciências Matemáticas, mas - dolorosa verdade! - somos ainda analfabetos no que diz a Biologia. A ciência dos seres vivos foi talvez posta de lado por muitos anos devido à tendência de olharmos mais para o mundo exterior do que para o nosso mundo íntimo. O Dr. Alexis Carrel explicou isso de um modo simples e brilhante. E hoje, mais do que nunca, sentimos a necessidade de clamar contra certos preconceitos arcaicos que ainda dominam os homens. O estudo do homem, sua constituição, seus males, suas tendências, deve preocupar todo aquele que pensa na construção de um mundo melhor, onde haja saúde, conforto moral e material.
É pelo estudo, pela pesquisa, pela observação nos laboratórios, que o mundo progride. Sem um perfeito conhecimento da natureza humana, não pode existir a paz de que tanto se fala. Somos nervos, órgãos, forças desconhecidas que lutam. Não há conhecimento absoluto dessas forças. E o homem, que procura Saber, fica eternamente jogado ao vagar das intempéries. Eis o nosso fracasso: a falta de conhecimentos de nós mesmos, a falta de aperfeiçoamento mental. Luta-se desde muitos anos para que o mundo exterior seja o melhor possível. E realmente, já atingimos a um grau de progresso notável. Estão ai as maravilhas. O rádio, o avião, a televisão, as cidades adiantadas, enfim, o mundo material em toda a sua grandeza. Mas, se nos detivermos um pouco pensando e refletindo sobre a natureza humana, chegaremos a um resultado bem triste. A medicina, hoje como ontem, ainda é apenas uma pálida imagem. Apesar dos seus progressos pouco podemos considerar em benefício da humanidade. O ser humano sofre e muitas vezes morre sem qualquer valor elogiável para a penicilina que é hoje - dizem - a última maravilha médica. E vemos então uma série de enormes e complexos problemas humanos desafiando os mais forte conhecimentos científicos. Se é como diz o Dr. Alexis Carrel que pela primeira vez na história do mundo, uma civilização, ao atingir o começo do seu declínio, pode discernir as causas de sua doença. Esses remédios, tenho a certeza, são difíceis, mas não são impossíveis de encontrá-los.
Por que o mundo é assim? Não é possível haver uma paz duradoura? Por que tanta luta, tanto sacrifício, tanta miséria humana?
Que colosso de mundo seria o nosso se todo o cuidado, toda a atenção, todo o saber, fosse dedicado para o bem coletivo! Não haveria raças, haveria irmãos. Não haveria ódio, haveria amor. Todos, unanimemente, deveriam compartilhar de qualquer maneira para o progresso do mundo e para a civilização do Homem. Sim, porque nós ainda somos selvagens.
O mundo seria uma beleza se houvesse compreensão perfeita da vida e uma melhor distribuição de valores. As invenções, as descobertas, deveriam ser utilizadas para o bem da humanidade. Quando uma nação fizesse uma descoberta nada de querer guardar segredo. Comunicaria aos seus irmãos, e todos procurariam aperfeiçoa-la e utiliza-la da melhor forma.
E haveria em todo o mundo Direito, Liberdade e Justiça. Facilitar-se-ia o intercâmbio entre todos os povos para que nascesse uma aproximação mais ampla e íntima. Os povos deveriam se conhecer e se amar. Os mais fortes protegeriam os mais fracos, auxiliavam, socorriam. Os mais ricos protegeriam os necessitados. Procurar-se-ia civilizar o mundo sem ódio, sem guerras. Os homens seriam livres. Não haveria brigas banais por causa de petróleo, ouro, carvão e ferro. E quando, por qualquer circunstância, aparecesse um sujeito assim como Hitler, haveria uma reunião de Homens inteligentes para resolver o "caso" dele. Os próprios alemães, educados sob os novos princípios que deveriam regular a sociedade mundial, exclamariam:
- Coitado! Apareceu um homem que quer brigar. Vamos estudar o "caso" dele.
Sim, porque homens assim como Hitler seriam estudados e expostos em Museus Históricos como exemplos que não deviam ser seguidos. E aposto que o próprio Hitler se sentiria feliz num Museu... (É lógico que embalsamado).
Os erros de hoje não seriam nunca repetidos. A marcha seria para o domínio perfeito das nossas ambições descabidas. Haveria um único alvo: a paz do mundo e a felicidade de todos os povos.
Extinguir-se-iam os preconceitos, quer raciais, quer sociais. Haveria liberdade de pensamento e igualdade. Nada de raça superior nem inferior. Procurar-se-ia da melhor forma aperfeiçoar o elemento humano, mas fora com esse negócio de ariano ou de "super-homem".
Haveria proteção para os mendigos, para os menores sem lar; amparo à criança, à velhice. Os problemas quer sociais, médicos ou financeiros, seriam resolvidos com sabedoria por uma classe de Homens dignos. Nada de safadeza no meio. Enfim, creio que não perderíamos nada em tentar melhorar a nossa vida e as das gerações futuras. Chega de tantas guerras! Quando, por exemplo, um país - fosse qual fosse - tivesse uma epidemia, um terremoto, qualquer catástrofe, os outros imediatamente iriam ao seu auxílio, em socorro das vítimas. E o mundo seria uma beleza! Voltariam as Olimpíadas, as excursões esportivas. Em vez de missões militares seriam organizadas missões médicas, científicas e sociais. Haveria uma língua universal, que aprenderíamos desde criança para facilitar depois o conhecimento das coisas. Acho que o Esperanto é muito difícil de assimilar. Estudar-se-ia o Espanhol ou o Francês. É lógico que um mundo assim só é possível quando o homem de todos os recantos estiver suficientemente preparado para isso. Talvez seja a nossa geração que assistirá o raiar dessa Aurora. Creio que um dia surgirá um mundo assim. Ninguém deve duvidar. Talvez daqui a cem anos! Cem? Talvez daqui a mil...

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