14/12/2004

crise politica

A CRISE política em que o país mergulhou com a posse e subsequente queda do Governo liderado por Santana Lopes tem deixado quase na penumbra do esquecimento uma das suas causas próximas e um dos seus responsáveis directos: José Manuel (Dur?o) Barroso.
Uma das perguntas mais pertinentes que logo em Julho muitos colocaram ficou, desde ent?o e até agora, sem resposta. Porque impôs Dur?o Barroso, ao partido e ao país, a soluç?o Santana Lopes? Ou, desdobrando a pergunta. Porque n?o optou por uma soluç?o de continuidade, como a de entregar o Governo a uma ministra respeitada como Manuela Ferreira Leite, e escolheu a imprevisibilidade do seu vice-presidente Santana Lopes? Porque n?o deixou que o PSD escolhesse em Congresso uma nova liderança e o caminho a seguir no pós-barrosismo (como fizera, avisadamente, Cavaco Silva ao abandonar a liderança nove anos antes)? O Presidente da República, como seria óbvio, sentir-se-ia ainda mais obrigado a dar posse a um líder do PSD legitimado pela escolha de um Congresso do que ? soluç?o forçada e apressada que Dur?o Barroso n?o teve pejo de lhe apresentar.
Mas, sobretudo, fica a pergunta mais lógica: porque se co-responsabilizou Barroso com uma soluç?o que muitos anteciparam instável e sem longevidade? Se a soluç?o resultasse ninguém lhe agradeceria, todos dariam o mérito ao seu sucessor. Se a soluç?o falhasse, lembrar-se-iam inevitavelmente de si e muitas das culpas e recriminaç?es recairiam sobre a sua cabeça.
E de duas uma. Ou a soluç?o imposta por Dur?o Barroso resultou de uma má avaliaç?o do que estava para vir (e que já muitos adivinhavam). Ou só pode ter resultado de calculismo político a resvalar para o cinismo.
Se foi má avaliaç?o das qualidades e defeitos do político que empurrou para a chefia do Governo, ent?o Barroso errou com gravidade. Porque conhece Santana Lopes há anos mais do que suficientes para saber com o que contava e com que o país podia contar. Porque conhece, melhor do que a maioria e por experi?ncia pessoal, a inconstância, a impreparaç?o e a conduta errática do ex-presidente da Câmara de Lisboa. Se mesmo assim, com um conhecimento t?o próximo e privilegiado, Dur?o Barroso fez uma má avaliaç?o das m?os em que deixava entregue o Governo e o país, ent?o isso demonstra uma incapacidade de observaç?o e de julgamento que n?o o recomenda para o alto cargo que agora ocupa, na presid?ncia da Comiss?o Europeia.
Se n?o foi má avaliaç?o, isso só poderá significar que José Manuel Barroso agiu com noç?o das consequ?ncias e com um frio calculismo político. Demonstrando distanciamento e indiferença pela evoluç?o do país, pelas consequ?ncias nefastas que era possível prever com uma governaç?o de Santana Lopes, pelos compromissos que ele próprio assumira perante os portugueses, aos quais impusera dois anos de sacrifícios - compromissos entre os quais se contavam o saneamento das contas do Estado, a reforma da Administraç?o Pública entre outras, o crescimento económico acima da média europeia - e que n?o chegou a cumprir. Nenhum deles.
Depois de mim virá quem bom de mim fará - terá sido esse o pensamento mais profundo de José Manuel Dur?o Barroso? Fica a dúvida. Legítima.
O agora presidente da Comiss?o Europeia veio, anteontem, dizer em Lisboa que segue «com preocupaç?o o que se passa em Portugal». E acrescentou: «Fiquei surpreendido, como é normal». Ficou?!
Expresso-José António Lima

Sem comentários: