29/01/2005

"Uma boa cantada"

- Amor... Vamos lá pra casa?

- Não. Vamos ficar por aqui. Olha como o pôr-do-sol está maravilhoso!

- Vamos querida! Quero lhe mostrar minha coleção de borboletas...

- Não! Vamos ver o arrebol. Como é lindo!

- Ahhn!

- Você também acha?

- Lindo e gostoso eu diria.

- A tarde caindo, os últimos raios solares iluminando e colorindo as nuvens...

- E a gente traçando um arrebol.

- Você não sabe o que é um arrebol, não é?

- Que é isso? Sou um arrebolista de primeira!

- Ah, é? Então me diz que hora ele costuma surgir?

- Aí depende da fome.

- Fome? Ninguém come arrebol, seu maluco!

- Não come na sua casa, na minha é todo santo dia.

- Decerto vocês também fazem piquenique debaixo do arco-íris?

- Meu pai fazia, mas depois perdeu a graça.

- Por quê?

- Assim que ele pegou o pote de ouro, desanimou.

- Você tá me gozando...

- Vamos lá em casa que eu mostro o pote.

- E o ouro?

- O anão toma conta.

- Que anão?

- O zangado!

- O zangado?

- Ele é melhor. Antes era o Soneca, mas ele dormia no serviço.

- Não vai me dizer que a Branca de Neve vive na sua casa?

- Vivia, mas casou e mudou-se com um príncipe beijoqueiro.

- E uma rainha má não aparece por lá de vez em quando não?

- Só pra vender maças, mas é preciso saber escolher, porque algumas entalam na garganta.

- E como é que faz pra desentalar?

- O Gigante vira a gente de cabeça pra baixo e sacode.

- Que gigante, caramba?

- É o seguinte, no quintal lá de casa tem um pé de feijão enorme, e aí...

- Já sei, lá em cima tem um gigante!

- Gente boa, mas ronca muito. A menininha fica assustada com o barulho.

- Que menininha?

- Que passa pra lá e pra cá todo dia com seu chapeuzinho vermelho.

- Humm, e por acaso não tem nenhum lobo rondando por lá não...

- Tinha, mas um caçador o matou na horinha em que iria comer a avó da menininha.

- Não brinca!

- Verdade. O couro do bicho ta lá em casa. Um belo tapete.

- E esse tapete fica no seu quanto, não?

- Não. Fica tapando o buraco no meio da sala.

- Que buraco, pelo amor de Deus!

- Olha... Eu mesmo não vi, mas meu pai, que nunca mentiu, assistiu tudo...

- Hum...

- Um coelho entrou no buraco e uma garota foi atrás. Parece que ainda estão lá.

- E essa garota não seria uma tal de Alice, por acaso?

- Você conhece a moça? Quem sabe você não dá uma ajuda?

- Como?

- Vamos até minha casa e você chama por ela.

- No buraco?

- É!

- Tá bom, e se ela não sair?

- Neste caso, a gente vai pro meu quarto ver a coleção de borboletas!

Moral da estória: Não são as mulheres que são difíceis, a cantada é que precisa ser inserida no contexto

rui xisto

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