Por João César das Neves
Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português. Havia até agora no mundo paÃses desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os paÃses que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo e desenvolvimento e... falharam. Hoje são paÃses industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de paÃses especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal. A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos paÃses em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos Ãndices de aselhice económica foramdetectados em Portugal, um dos paÃses que tinham também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso. Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O PaÃs Que Não Devia Ser Desenvolvido" - O Sucesso Inesperado dos IncrÃveis Erros Económicos Portugueses. "Num primeiro capÃtulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nÃvel dos paÃses ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nÃvel, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no perÃodo. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável. Temos mais médicos por habitante que muitos paÃses ricos. A mortalidade infantil caiu e quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento. Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo perÃodo. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de paÃses que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso paÃs tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as polÃticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso paÃs não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo relatório, um sistema educativo horrÃvel e que tem piorado com o tempo. O nÃvel de formação dos portugueses é ridÃculo quando comparado com qualquer outro paÃs sério. As crianças portuguesas revelam nÃveis de conhecimentos semelhantes aos de paÃses miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista à s negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o inÃcio. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um paÃs em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdÃcio, um tal nÃvel de desenvolvimento?A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o PaÃs está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o PaÃs cresce mais um bocadinho. "A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrÃvel capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. "No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrÃvel e inexplicável.
"O texto termina dizendo: "O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".
26/08/2005
O paÃs que não merece ser desenvolvido: Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem.
Colocado por Anónimo na sexta-feira, agosto 26, 2005
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