22/03/2008

CLUBES INGLESES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS

Acrise no crédito de elevado risco que provocou o recente colapso do banco de investimento Bear Stearns, nos Estados Unidos, causou mossa na carteira de Joe Lewis, o patrão do Tottenham. Lewis, de 71 anos, é dono da 16.ª maior fortuna do Reino Unido. A sua carteira de investimentos inclui uma posição de controlo na Enic Sports plc, a sociedade que detém o clube londrino. Nos últimos sete meses, Lewis investiu cerca de 640 milhões de euros em acções do Bear Stearns - um investimento desastrado e que praticamente se desintegrou nos últimos dias. Mas a crise que se vive nos mercados financeiros não deverá afectar o Tottenham. O clube do defesa português Ricardo Rocha ocupa uma posição de pouco relevo na carteira gorda de Joe Lewis, um milionário cuja fortuna - de acordo com a "Rich List 2007", do jornal "The Sunday Times" - ronda os 3.600 milhões de euros. A crise, no entanto, poderá ter repercussões na saúde económica e financeira de outros clubes da Premier League. De acordo com um relatório publicado no ano passado pela Deloitte, as dívidas globais dos clubes da divisão principal do futebol inglês dispararam de 866 (2005) para 2.055 milhões de euros (2006). Este nível de endividamento significa que um número crescente de clubes estará exposto aos problemas causados pela recente crise de crédito. No topo da lista encontra-se o Manchester United, cujo proprietário - a família Glazer, dos Estados Unidos - renegociou empréstimos de 770 milhões de euros, em 2006, para financiar o "takeover" (de mais de 1.000 milhões) do clube, concluído em Maio de 2005. O relatório e contas referente ao exercício de 2006/07 revelou que o United teve um lucro ilíquido de 54,3 milhões de euros, um valor apenas ligeiramente superior aos 54 milhões que a Red Football - a holding norte-americana proprietária do clube - tem de pagar anualmente de juros relativos àqueles empréstimos. O Arsenal anunciou no mês passado que as dívidas totais do clube atingiram os 395 milhões de euros em Novembro de 2007. Com a excepção do Chelsea - cujos prejuízos imensos são cobertos anualmente através da injecção de fundos por Roman Abramovich -, praticamente todos os outros clubes da Premier League recorreram ao crédito fácil e barato que esteve disponível no mercado nos últimos cinco anos. Alguns clubes, como o Arsenal, negociaram empréstimos com taxa de juros fixa (o clube paga 23 milhões anuais, ao longo de 25 anos, por um empréstimo de 334 milhões). Para outros, a renegociação dos empréstimos poderá revelar-se complicada. O Liverpool, por exemplo, tem dívidas de 450 milhões. Mas o empréstimo principal, contraído junto dos bancos Wachovia e Royal Bank of Scotland, expira dentro de 18 meses. "Os patrões do Liverpool e do Manchester United devem andar preocupados", comentou Keith Harris, presidente do banco de investimento Seymour Pierce, numa entrevista ao The Daily Telegraph. "Os clubes de futebol deixaram de poder recorrer aos mercados bolsista ou de securitização. Agora parece que o recurso à banca também vai passar a ser pouco exequível. A única via, no futuro, será o recurso a proprietários endinheirados", acrescentou Harris.

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