19/10/2004

A NAU CATRINETA

Lá vem a Nau Catrineta

Que tem muito que contar

São Paulo Portas à Proa

Santanás a comandar

Ouvi agora senhores

uma história de pasmar



D. Bagão conta o pilim

D. Morais trata das velas

D. Guedes limpa com VIM

tachos pratos e panelas







D. Pereira na enfermaria

conta pensos e emplastros

E o D. António Mexia

põe vaselina nos mastros



Seis dias idos de Outubro

mais uma bronca estalava

deixando esta Nau ao rubro

tal o caldo que entornava



Foi tamanha a confusão

na Nau de El-Rei instalada

que mais parecia o Bolhão

às cinco da madrugada



Mas que tinha acontecido

dentro da barca real?

o que é que teria havido

p'ra tão grande cagaçal?



Tinha sido D. Rebelo

a pôr um ponto final

na conversa de carmelo

em casa do Amaral



Logo a notícia correu

veloz que nem uma bala

toda a barcaça tremeu

ao vê-lo fazer a mala



Calaram o D. Marcelo!

já voltaram os censores

derrubemos seu castelo

às armas pois, meus senhores!



E logo ali assaltaram

o armeiro real

trazendo o que encontraram

desde a pistola ao punhal



Puseram olhares fatais

gritaram todos ao monte:

matai os novos Cabrais

Viva a Maria da Fonte!



D.Santanás ao escutar

o granel que se instalava

acordou a resmungar

sem saber que se passava



Que raio de cagarim

vem a ser este afinal?

quem ousa acordar assim

o Capitão General?



Comenta um seu assessor

um beto mal encarado:

sabei que há bronca, senhor

e D. Gomes é culpado



Agarrou no seu punhal

p'ra esgrimir com D. Rebelo,

que é espadachim real...

fiou sem couro e cabelo



D. Santanás percebendo

o que se estava passando

tratou logo de correr

para a ponte de comando



E com a tal voz de santinho

que todo o mundo enganava

pigarreando fininho,

disse à plebe que escutava:



Marujos da Catrineta

juro-vos eu, meus senhores

que quem inventou a treta

do regresso dos censores

não mais fez do que enganar-vos

e ao manobrar-vos assim

o que fez foi de vós parvos

para atingir outro fim



E ao falar apontava

para um canto do porão

D. Rebelo rebolava

a rir no meio do chão



Falando com os seus botões

dizia assim bem baixinho:

caíram que nem morcões

qual rato vendo o toucinho



Vão dar cabo do canastro

ao triste do Capitão

vão pendurá-lo no mastro

a trinta metros do chão



O mais que pode ao descer

é voltar a ter Lisboa

porque assim que El-Rei morrer

só eu é que agarro a coroa



Vede lá como ganhei

em beleza esta batalha

não tarda serei o rei

de toda esta escumalha


RX

Sem comentários: