14/10/2008

Guerra aberta na Polónia

 

A coabitação entre o Primeiro-ministro e o Presidente polacos atingiu o limite. O chefe de Governo "proíbe" o Chefe de Estado de ir a Bruxelas.

Luísa Meireles

Tomasz/EPA

A relação entre o Presidente (à esquerda) e o primeiro-ministro (à direita) da Polónia já conheceu melhores dias

O Presidente e o primeiro-ministro polacos envolveram-se numa batalha sem precedentes pelo direito a representar o país. O pretexto é a cimeira europeia de chefes de Estado e de Governo desta semana: o chefe do Executivo, Donald Tusk, não quer que o Presidente Lech Kaczynski vá a Bruxelas e este garante que vai.

O conflito - que deixa a léguas qualquer "tensão estratégica" de tons nacionais - veio a público já na quinta-feira passada, quando o Conselho de ministros emitiu uma resolução declarando que o primeiro-ministro seleccionaria a delegação ao Conselho Europeu.

O Chefe de Estado - que sempre representou a Polónia nestas cimeiras - não seria convidado a deslocar-se a Bruxelas, segundo se depreendia dos termos da resolução. O próprio primeiro-ministro declarou que seria o Governo a representar a Polónia e que "não previa" a presença do Presidente.

O Governo (do partido Plataforma Cívica, PO) tem sérias divergências com o Presidente (gémeo do antigo primeiro-ministro e líder do anterior partido governante Direito e Justiça, Jaroslaw Kaczynski) e não quer vê-lo em Bruxelas num momento tão complexo como o actual.

Mas este fim-de-semana o conflito agudizou-se ainda mais com o ministro da Defesa a anunciar em declarações a uma rádio que o Presidente não poderá usar o avião do Governo "porque o piloto da segunda tripulação está doente", segundo relata o jornal polaco em língua inglesa "The Warsaw Voice".

Ao que Kaczynski retorquiu: "na Polónia há uma hierarquia e que se alguém tiver que alugar um avião por não estar disponível uma segunda tripulação, não devo ser eu".

Já antes, tinha recordado a Tusk que entre os temas a discutir pelo Conselho estaria o Tratado de Lisboa e que este "ainda não tinha a sua assinatura".

Como se não bastasse, o ministro dos Negócios Estrangeiros veio também dizer à televisão que a resolução do Conselho de Ministros havia sido analisada por seis constitucionalistas, que consideravam que o Presidente não poderia ir à cimeira "contra a vontade do Conselho de Ministros".

Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos...

Expresso

 

 

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