23/10/2008

Tempos difíceis

To our children’s, children’s children… (dos Moody Blues, lembram-se?)

Parábola do nosso tempo

Ontem

Tenho sido muito instado a falar aqui sobre a actual facilitação dos diplomas escolares. Com certeza que se a cada diploma correspondesse o correspondente saber, pois nada, mas nada me alegraria tanto! Mas será assim? Lembro-me de uma história passada há anos, antes desta vaga, que gostaria de contar tal qual aconteceu.

Conheci uma mulher muito infeliz, sem marido nem pão para dar aos filhos. Os que a conhecíamos tudo fizemos para lhe resolver os problemas, mas era difícil. Até que tive uma ideia. O rapaz mais velho não seria grande estudante, mas parecia-me esperto e nele quis ver a solução. Ajudou-se quanto se pôde a concluir o 9.º ano, e, logo que o conseguiu, corri a um amigo grande empregador pedindo-lhe, quase de joelhos, um emprego. Entre os muitos que tinha, não seria difícil.

Tanto me chorei que me atendeu, e o rapaz começou a trabalhar. Fiquei radiante, finalmente naquela casa havia um salário, até que dias depois soube que o meu amigo me procurava. Com saber de muita experiência feito, logo que o encontrei lhe disse que pagaria tudo, que era só dizer-me quanto era. Pensava eu que, mais uma vez, um dos meus protegidos tinha sido pouco íntegro. Respondeu-me que não era nada disso, que não tinha tirado nada, que o que acontecia era que não sabia somar. Como? Com o 9.º ano?

Chamei-o e conheci toda a verdade. Com toda a sinceridade me disse que naquele tempo passava-se mesmo com três negativas, e ele, como não gostava de Matemática, nem para o livro olhava. Era como se não existisse. Fui indagar e de facto a sua série de 1 em Matemática era monótona e interminável. Estava explicado. Pedi desculpa ao meu amigo, que, aliás, foi tão generoso que logo empregou os três irmãos em postos ainda menos exigentes, mas com a obrigação, por mim ratificada, de que passariam a ser trabalhadores-estudantes, mas agora de todas as disciplinas.

Tenho outras histórias semelhantes, que felizmente nem de longe são a generalidade, mas esta talvez de alguma maneira possa responder ao que me pedem.

(Almeida e Sousa no JN)

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