15/03/2005

Carta escrita no ano 2070

Ano 2070 acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas arvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam as sua formosa cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem agua. Antes o meu pai lavava o carro com a agua que saía de uma mangueira. Hoje os meninos nao acreditam que a agua se utilizava dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA �GUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais se podia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estao irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes a quantidade de agua indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (foças) como no século passado porque as redes de esgotos nao se usam por falta de água.
A aparência da populaçao é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidrataçao, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já nao tem a capa de ozono que os filtrava na atmosfera, imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias sao as principais causas de morte.
A industria está paralizada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras sao a principal fonte de emprego e pagam-te com agua potável em vez de salário.
Os assaltos por um bidao de agua sao comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pela ressequidade da pele uma jovem de20 anos está como se tivesse 40. Os científicos investigam, mas nao há soluçao possível. Nao se pode fabricar agua, o oxigénio também está degradado por falta de arvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações. O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto. A gente que nao pode pagar é retirada das "zonas ventiladas", que estao dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcional com energia solar, nao sao de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média é de 35 anos.
Em alguns países ficam manchas de vegetaçao com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exercito, a agua voltou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui em troca, no há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registar-se uma precipitaçao, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas atómicas e da industria contaminante do século XX. Advertiam-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a agua que quisesse, o saudável que era a gente. Ela pergunta-me:Papá! Porque se acabou a agua? Entao, sinto um nó na garganta; nao posso de sentirme culpado, porque pertenço à geraçao que terminou destruindo o meio ambiente ou simplesmente nao tomámos em conta tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já nao será possível dentro de muito pouco porque a destruiçao do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendera isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar ao nosso planeta terra!

Documento extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos" de Abril de 2002.

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