16/10/2005

Portugal/Brasil

A Cimeira Ibero-Americana, a decorrer em Salamanca, ilustra a influência de Espanha na América Latina, numa bem sucedida estratégia dos Governos espanhóis em perfeita consonância com os grupos e empresários privados.Numa Europa deprimida e bloqueada, com especiais responsabilidades para a França e a Alemanha, os sucessos do Reino Unido e da Espanha não se devem certamente ao facto de serem monarquias e terem beneficiado de grande estabilidade política, com alternância de Governos sem mudanças significativas de orientação.Entre os factores do sucesso conta-se a visão estratégica dos dois países no estabelecimento de laços fortes, com expressão económica, nas suas áreas de influência nas Américas.Como é evidente, o "alinhamento" do Reino Unido governado por Tony Blair com os EUA de Bush nos acontecimentos mais importantes da vida internacional, com destaque para o Iraque, terá sido ditado, entre outras importantes motivações, pelo interesse do Reino Unido em manter uma solidariedade que lhe garanta o reforço dos laços económicos entre os dois países. Paralelamente, a Espanha desenhou uma estratégia de crescente influência em toda a América Latina, que tem sido prosseguida sem ruptura pelos governos de direita ou de esquerda.O Estado espanhol, com o empenhamento do rei e dos governos, compreendeu que essa influência só poderia alcançar-se numa cooperação institucional forte e descomplexada com os empresários e os seus grupos. É evidente a conjugação mútua de esforços de governantes e empresários na expansão dos seus negócios na América Latina, sem excluir o Brasil.O exemplo espanhol deveria iluminar-nos. A realidade é que não existe estratégia política e económica coerente no esforço de investimento das empresas portuguesas no Brasil. É incompreensível que o Governo português não estabeleça com os grupos portugueses com presença no Brasil uma estratégia de cooperação. A triste realidade é que a falta de estabilidade política, de uma diplomacia económica estruturada e competente e a desconfiança que entre nós se instalou entre o poder político e os empresários tem inviabilizado uma qualquer estratégia de fundo no nosso relacionamento económico com o Brasil. Seria mais uma oportunidade perdida se o Governo não olhasse para este dossier com a maior atenção. O Brasil é um país de grandes oportunidades de investimento que está a revelar uma surpreendente maturidade política. A crise grave em que está mergulhado o PT, que atingiu o Presidente, não perturbou até agora a normalidade política e menos ainda afectou a boa performance económica que o país está a viver.Foi e é importante que o Brasil tenha vivido a experiência de um Governo de esquerda que não cedeu ao populismo e respeitou as regras económicas e financeiras que permitiram vencer o flagelo crónico da inflação e retomar o crescimento económico. Espera-se, sem demora, uma estratégia realista do lado português.
Proença de Carvalho

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