13/03/2006

Neurastenia

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Um sino dobra em mim, Ave-Marias!

Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

Faz na vidraça rendas de Veneza…



O vento desgrenhado, chora e reza

Por alma dos que estão nas agonias!

E flocos de neve, aves brancas, frias,

Batem as asas pela Natureza…



Chuva… tenho tristeza! Mas porquê?!

Vento… tenho saudades! Mas de quê?!

Ó neve que destino triste o nosso!



Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!

Gritem ao mundo inteiro esta amargura,

Digam isto que sinto que eu não posso!!…



(Florbela Espanca, «Livro de Mágoas», in «Poesia Completa»)

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