23/01/2006

E agora, Sócrates?

Bom artigo este !

"A esquerda perdeu o Palácio de Belém. O PS dividiu-se. O eleitorado socialista reprovou a escolha de José Sócrates. Uma nova coabitação inaugura-se. Cavaco Silva dissolveu ontem a maioria que o elegeu Presidente da República. Comprometeu-se com o código moral da democracia e com a ideia de que "o Estado não é feudo dos que ganham". É aqui que se situa o seu maior desafio enquanto Presidente da República. São enormes as expectativas dos que apostam na alternância como altura de acerto de contas ou oportunidade de alargamento de poderes. O primeiro discurso de Cavaco Silva após a eleição baixou as expectativas dos que esperavam avisos solenes à governação e terá deixado o primeiro-ministro sossegado, pelo menos para já. Isso não quer dizer que o ex-primeiro-ministro não procure influenciar a condução do País. Mas não será tão cedo que dará sinais de sobressalto. José Sócrates já tem, do seu lado, sobressaltos que cheguem.Cavaco Silva regressou ao poder. Saiu há pouco mais de dez anos de São Bento debilitado e, pouco tempo depois, derrotado ao concorrer a Belém. Não desistiu. Geriu bem o seu tempo político. Ainda antes da confirmação da sua recandidatura presidencial já tinha à sua mercê o centro e a direita. Mas, mais do que isso, tinha um eleitorado de esquerda sensível aos seus argumentos. Soube tirar partido do descontentamento que as políticas impopulares do Governo provocaram, nomeadamente entre aqueles que votaram PS nas últimas legislativas. E, se isso já era relevante, o aparecimento de dois candidatos na área socialista ajudou a alargar ainda mais o seu eleitorado.Cavaco Silva ganhou com mérito. Foi o candidato mais afirmativo, que se centrou no seu próprio discurso. Cinco candidatos anti-Cavaco não chegaram para justificar uma segunda volta. E se assim foi é porque, à esquerda, não houve projecto suficiente.Os tempos que se avizinham vão ser difíceis para José Sócrates. Perdeu duas eleições. Viu o PS dividir-se e surgir Manuel Alegre com um capital político excelente e desafiante. O PCP reforçou-se com Jerónimo de Sousa. E o Bloco fragilizou-se com Francisco Louçã. Sócrates não teve ontem boas notícias do centro e da direita. Não vai ter boas notícias da esquerda. Não espantará que, como diziam alguns cínicos do cavaquismo, que José Sócrates encontre em Cavaco Silva compreensão para as suas políticas. Pelo menos, até ver. Quanto ao PSD e ao CDS será melhor pedalarem as suas bicicletas. Cavaco Silva continuará sozinho em palco. Mário Soares teve um resultado cruel se tivermos em conta a sua dimensão política. Revelou uma disponibilidade rara para o combate. Ainda assim fora de tempo. Soares tinha razão quando disse nas Cortes, de Leiria, que Cavaco era um bom candidato a Presidente. "

António José Teixeira

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