17/01/2006

Um Presidente, um candidato, a verdade

Pedro Santana Lopes

O homem já não se enxerga...

"Dizer o que se pensa em Portugal significa, por vezes, ouvir depois o que outros pensam que dissemos ou o que outros querem que digamos. Isto a propósito de dois assuntos diferentes mas conexos um com o actual Presidente da República; o outro com o mais provável sucessor.1 - Peço rigor a Jorge Sampaio, a quem, como já disse, por várias vezes, só responderei quando deixar de ser Presidente da República. Mas o respeito que tenho mantido não pode permitir ao Chefe do Estado resguardar-se nessa condição para elaborar - como faz na sua fotobiografia - o que supõe que pensava o anterior Governo sobre a contenção do défice ou sobre outras questões. É que, estranhamente, sendo sua a fotobiografia, o Presidente Jorge Sampaio não conta a sua posição na altura sobre o défice (nomeadamente na reunião que tivemos a 13/10/04 e em que me fiz acompanhar pelo ministro das Finanças). Porquê?Julgo que as palavras de autoria do Presidente Jorge Sampaio já começam a ser involuntariamente esclarecedoras sobre o que foi o seu estado de espírito, desde o início, com o meu Governo. Mas é também elucidativo o que representa, a nível institucional, a revelação de telefonemas para militantes do PPD/PSD enquanto tratava do assunto com Durão Barroso. E também o significado para a dissolução do Parlamento, de um passeio na Av. da Liberdade?2 - Dei uma entrevista à SIC Notícias sobre o momento político em que expus diversas considerações sobre as eleições presidenciais. A SIC Notícias passou a entrevista na íntegra, por três vezes, e os analistas políticos foram íntegros nas opiniões subsequentes, mesmo que alguns tenham sido naturalmente discordantes.No entanto, o sound bite que seria reproduzido nas televisões sobre esta entrevista - o único visto por milhões de portugueses que não têm TV Cabo - daria conta de um entrevistado que apenas quis alertar para o "sarilho institucional" que se poderia criar com a vitória de Cavaco Silva e, na leitura de quem viu apenas a síntese, de alguém animado tão-só pelo desejo de "vingança" que não considera interesses superiores. Não foi isso que aconteceu. Nem este artigo representa um recuo em relação à entrevista, porque não se recua quando se repõe a verdade.Em rigor, disse e repito que Cavaco Silva, "pelo seu curriculum e pelos seus atributos, se for eleito Presidente representará bem o País, é uma pessoa que está à altura do cargo a que se candidata. (?) O que não significa que formule uma opinião pública sobre o sentido do meu voto. De todos os candidatos é o que se tem revelado mais à altura do cargo". Mais adiantei "Acho que Cavaco Silva tem sido quase o único candidato à Presidência da República. Os outros têm sido candidatos contra Cavaco Silva. Ele tem sido muito rigoroso no cumprimento da sua estratégia."Reafirmo que devo lealdade ao meu espaço político num período de campanha eleitoral mas também devo fidelidade a mim próprio e à memória do que aconteceu no ano passado. Isso implica que não esqueça o respeito que é devido ao combate que muitos que votaram em nós travaram nessa altura. Foram quase dois milhões de pessoas, cerca de 29% dos eleitores.Impus a mim próprio que não falaria sobre o meu voto nas presidenciais. Mas há uma garantia que posso dar não voto nos adversários do meu espaço político. A política não se faz com questões pessoais.É também inegável que a vitória que se espera de Cavaco Silva tem uma consequência pioneira na nossa democracia a existência de uma figura tutelar no espaço de centro-direita e de direita em Portugal. O mesmo aconteceu com a esquerda, em meados da década de 80, quando Mário Soares foi eleito pela primeira vez Presidente da República. Todos conhecemos as dificuldades que António Guterres teve na oposição de esquerda antes de se tornar primeiro-ministro.Do mesmo modo referi ser o capital de esperança que Cavaco Silva pode levar consigo a criar um dilema a dupla legitimidade ou é utilizado e pode criar as tais tensões institucionais ou não é e pode desiludir os seus votantes. Muitos têm escrito e falado sobre este tema e não aceito que, por ser eu a falar, seja considerado um ataque ao candidato. Como disse atrás, não recuo. Não declarei, nem declaro, qualquer apoio a Cavaco Silva. Mas também não o ataquei, nem ataco. Aliás, Cavaco Silva será o primeiro a compreender que se tenha esta posição porque também não declarou qualquer apoio em Fevereiro de 2005. Com os dois assuntos, como se vê, tenho a mesma preocupação o respeito pela verdade. PS A propósito de verdade, quando falo saltam as vozes do costume (JPP, ALX, ASL, JPC, entre outros). Declaram a vida e a morte política. Mas eles não sabem do que falam porque nunca ganharam, nunca viveram. Só sabem falar do que os outros fazem mas nunca fizeram nada. Nem sabem que nós sabemos que eles sabem que, como disse Churchill, em política pode morrer-se várias vezes. E, permito-me acrescentar, viver também."

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