08/12/2008

Obama está mesmo a preparar o Big Bang do regresso da América

O novo Presidente dos Estados Unidos desinteressar-se-á da Europa se os aliados não conseguirem fazer o que é preciso, diz Fischer.
Há dois anos, quando o entrevistei, disse-me que nunca deveríamos subestimar a América, porque ela tinha sempre a capacidade de se regenerar. Já aconteceu e da maneira mais extraordinária. Quais são as suas expectativas?
É precisamente o oposto do que se passa na Europa.
Eles avançam. Nós recuamos.
É. Neste momento, conseguir um voto favorável na Irlanda e avançar com o tratado seria o nosso momento Obama. É por isso que não consigo entender porque é que os nossos líderes não estão a lutar por isso e a esforçar-se ao máximo por explicar o que está em causa.
Mencionou, na sua conferência, o gigantesco programa para estimular a economia que Barack Obama vai assinar no primeiro dia da sua presidência, considerando que será já voltado para o futuro. Espera muito da nova administração?
Espero muito. Mas não é só isso. Ele vai restaurar a credibilidade moral da América, vai fechar Guantánamo, os EUA vão regressar ao respeito pela lei internacional. Vai envolver-se de novo no Médio Oriente, justamente porque vai retirar-se do Iraque.
E vai conseguir responder às enormes expectativas que há no mundo em relação a ele?
Não tem outra alternativa senão responder-lhes, porque tudo o que não seja isso será visto como um falhanço. Creio que ele compreende isso. Se olhar para o que está a fazer, o que tem dito, a sua equipa, vê que já está a fazer um trabalho extraordinário. Olhe a equipa. Por mais que o trabalho seja extraordinariamente difícil, eles estão mesmo a preparar o Big Bang do regresso a América.
Pensa que a Europa estará à altura de Obama? Daquilo que Obama espera dos aliados europeus, que será bastante?
Vai pedir-nos para fazer o que é preciso ser feito. Em todos os domínios. Energia, economia, Afeganistão. E, se não soubermos responder à altura, a América desinteressar-se-á da Europa e virará as suas expectativas para o Pacífico, onde estão os seus principais credores - Japão, China, Coreia do Sul. Onde se verificam as taxas de crescimento mais altas. E a América pode tornar-se uma nação mais do Pacífico do que do Atlântico. O que quero dizer é que quase tudo dependerá de nós. Ou a Europa consegue ser um parceiro fiável e mantém a América numa perspectiva transatlântica, ou...
Se a nova administração pedir mais recursos para o Afeganistão, pensa que a Europa responderá de uma forma positiva?
Não vejo alternativa. Considerar o contrário seria admitir que iríamos empurrar de novo a administração americana para o unilateralismo. Seria irresponsável da nossa parte. Espero que sim. Faço figas para isso. A alternativa seria a irrelevância.
Tenciona voltar à vida política?
Não.
E à vida europeia? Não quer ser o próximo alto representante?
Não e não. Isso está passado. É por isso que sou livre de criticar quem quero quando quero.
T.de S. jornal.publico

Sem comentários: