27/04/2006

CASTELÃ DA TRISTEZA

(Florbela Espanca)


Altiva e couraçada de desdém,

Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!

Passa por ele a luz de todo o amor ...

E nunca em meu castelo entrou alguém!



Castelã da Tristeza, vês? ... A quem? ...

– E o meu olhar é interrogador –

Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr ...

Chora o silêncio ... nada ... ninguém vem ...



Castelã da Tristeza, porque choras

Lendo, toda de branco, um livro de horas,

À sombra rendilhada dos vitrais? ...



À noite, debruçada, pelas ameias,

Por que rezas baixinho? ... Por que anseias? ...

Que sonho afagam tuas mãos reais? ...

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