03/11/2008

Alguns dados e notas da história de Loriga

Glaciação da Serra da Estrela e formação geológica do Vale de Loriga

A Serra da Estrela sendo a mais elevada de Portugal Continental com 1991 metros de altitude, impõe-se por ser erguer bruscamente entre áreas aplanadas e pouco elevadas, a planície da Beira Baixa a Se, conhecida por Cova da Beira e o planalto da Beira Alta a NW.

Do ponto de vista geológico é um afloramento granítico com cerca de 280 milhões de anos (Paleozóico) entrecortado aqui e além por filões de quartezíticos, por depósitos glaciários e fluvioglaciários e interrompido a NE por complexos xistograuvaquicos e anteordovícicos que também o rodeia a Sul e a SW.

Presume-se datarem de cerca de 65 milhões de anos (Paleozóico) as principais linhas de fractura que condicionaram grandemente o relevo e a estrutura actual da Serra da Estrela, bem como o encaixe da rede hidrográfica da região, tendo-se verificado o levantamento tectónico somente no final do Terciário (finais do Miocénico início do Pliocénico) por efeitos da orogenía Alpina que submeteu o maciço a movimentos epirogénicos.

No tempo geológico, a Era Quaternária tem particular interesse, porquanto é nesse período que decorre a evolução rápida do homem, se estabilizam os climas regionais, se define a forma exterior da crosta terrestre nas zonas com cobertura glaciária.

Durante a última glaciação, uma acentuada baixa de temperatura invade a Europa e à acumulação de sucessivas camadas de neve e de gelo nas elevações, seguiu-se o desprender e deslizar vagaroso, para mais baixos níveis das enormes massas de gelo. As línguas de gelo migrantes, com maior velocidade na parte central e arrastar vagaroso nas margens, fragmentamse e desenvolvem poderosas forças que arrancam, estriam, gastam e dão polimento às superfícies em que deslizam.

Na Serra da Estrela a diversidade de línguas glaciárias existentes deveu-se sobretudo à topografia pré-glaciárica e às condições climatéricas durante a glaciação. A posição do Sol no verão relativamente à orientação dos vales bem como os ventos dominantes no inverno teriam sido dois factores importantes dessa glaciação.

Nesta superfície onde houve gelos móveis, as rochas brilham ao sol devido ao seu polimento provocado pela abrasão dos materiais por eles transportados. Este trabalho erosivo gerou no terreno enormes degraus denominados escadarias de gigante, e rochas arredondadas lembrando o dorso de ovelhas e por isso designadas de aborregadas. Um dos principais factores que contribuíram para estas formas foi a direcção do movimento do gelo que no primeiro caso seria perpendicular às fendas do granito e no segundo teria a mesma direcção.

Os glaciares que mais se afastaram atingiram o seu fim, ao encontrar menores declives e temperaturas que os fundem. Morreram, deixando amontoados de calhaus mal rolados e detritos

que transportaram, que salpicaram a paisagem com o aparecimento de alongados e amontoados blocos com tamanhos diversos, as moreiras, que constituíram a carga transportada pelos glaciares, posteriormente depositada por perda de capacidade de transporte, assim como, alguns

blocos de grande dimensão designados por blocos erráticos, que foram deixados em locais distantes da sua origem.

Como resultado de tais movimentos foi adquirida uma estrutura em degraus orientados, evidenciando nos patamares os restos da aplanação primitiva, que foi modelada por diferentes tipos de erosão, destacando-se na designada "Serra do Cântaros" a acção dos glaciares Wurmianos (cerca de 27 mil anos).

O planalto do cimo da Estrela teria sido coberto por uma calote de gelo (cerca de 80 metros de espessura, para alguns investigadores) da qual divergiram os antigos glaciares em número de sete, muitos dos traços desses antigos glaciares encontram-se por toda a área da Serra e vão desde circos gigantescos glaciares a vales com perfis em U.Os dois principais glaciares abriram os mais espectaculares vales desse tipo,e são o Vale do Zêzere,no qual se encontra a vila de Manteigas,e o Vale de Loriga,no qual se encontra a vila com o mesmo nome.Embora ambos os vales tenham tido a mesma origem,do lado de Loriga o granito é mais sólido e compacto,pelo que a erosão do glaciar foi diferente.Enquanto que do lado de Manteigas,o glaciar abriu um vale caracterísico em U aberto,do lado de Loriga o vale é mais próximo de um V,com espectaculares encostas escarpadas,e terminando num amplo vale escavado onde a resistência à erosão era menor e onde foram depositadas enormes quantidades de rochas e de terra.Esse depósito deu origem à colina onde surgiu Loriga há mais de dois mil e seiscentos anos,e onde está o centro histórico da vila.

Entre a Garganta de Loriga e o Covão do Meio,onde foi construída a Barragem de Loriga,a visão deste vale,rasgado a custo no duro e compacto granito pelo glaciar,é impressionante,fazendo lembrar, embora a uma escala muito menor,o Grande Cannyon nos EUA.Por cima da Barragem de Loriga, na parte superior do Vale de Loriga,e dentro da àrea da freguesia,está a única estância e pistas de esqui existentes em Portugal,um dos factos que contribuíram para que Loriga tenha o título de Capital da Neve.

O valor paisagístico da Serra da Estrela impõe-se pela variedade do mosaico que a constitui, os seus vales profundos divergindo dos cimos, dão à paisagem, pelo vigor do encaixe, uma grandeza de montanha pincelada pela diversidade vegetal, ribeiras, lagoas, e no sopé, as povoações em xisto ou em granito. Contudo, ganha especial importância numa área restrita, por nela existir uma morfologia única no nosso país, devido à glaciação, a par de uma vegetação de zimbro anão e cervum inigualável em qualquer outra paisagem portuguesa. É de salientar ainda a quantidade de caos de blocos nas zonas periglaciares, comuns a todas as montanhas graníticas,

que contrasta com a sua inexistência nas zonas outrora cobertas de gelo.

Outrora,a Serra da Estrela estava coberta por vegetação luxuriante de uma floresta que se estendia desde o sopé da serra até ao planalto superior.Porém,vestígios encontrados em alguns locais indicam que,há poucos milhares de anos,ocorreu um gigantesco incêndio florestal que varreu toda a serra e destruíu essa vegetação,que entretanto nunca mais recuperou nas àreas de maior altitude,devido principalmente à consequente erosão rápida do solo.

Como se disse, vários são os vales de perfil transversal em U, modelados pelas massas de gelo em movimento, cujos perfis longitudinais podem possuir socalcos deprimidos por vezes com lagos correspondendo a troços de maior resistência à acção abrasiva do glaciar.

Um desses vales imponentes é o de Loriga, que começando na mais elevada altitude da Estrela,a 1991 metros, desce abruptamente até à Vide a 290 metros, acolhendo no seu percurso a vila e as pequenas povoações como Cabeça, Casal do Rei, Muro.

Tendo como povoação central a Vila de Loriga a 7 Km da origem junto ao planalto da Torre, este vale está cavado em nítidos e numerosos degraus bem acentuados que constituem planos de aluvião arrelvados, e representam antigas lagoas assoreadas dispostas em série como pérolas de colar, e ainda também todo um vale repleto de história, onde é bem visível os vestígios glaciares, espécies vegetais raras duma floresta que cobria as encostas antes e após a glaciação,e que,como já foi referido,foi violentamente destruída.

A permanência de muito desses vestígios glaciares, as marcas de pastores transumantes, um mundo belo de socalcos que,juntamente com a complexa rede de irrigação,é uma obra gigantesca construída pelos Loricences ao longo de muitas centenas de anos e que transformaram um vale belo mas rochoso,num vale fértil.

Existe também o passado e o presente da duas vêzes centenária industria têxtil Loricense, sabendo-se também que a Vila de Loriga é das povoações mais antigas da Serra da Estrela.

Vila de Loriga

Registos antigos da história de Loriga,uma localidade antiquíssima

Os Montes Hermínios, hoje Serra da Estrela, era uma região propícia para os grandes rebanhos de gado e ao mesmo tempo uma fortaleza e trincheira bem conhecida dos pastores que se fortaleciam na defesa destes seus territórios nas lutas contra os conquistadores, principalmente contra o império Romano.Citando o grande poeta luso Camões,referindo-se ao Loricense Viriato, estes pastores eram "destros mais na lança que no cajado",e a sua vida era dividida entre o pastoreio do gado,agricultura e caça, e a luta. Os Hermínius eram o centro da Lusitânia pré romana,a sua maior fortaleza,e onde os Romanos tiveram mais dificuldades para ultrapassar a resistência lusitana pois ali vivia a tribo mais aguerrida.

Não foi por acaso que as pessoas foram atraídas por esta região, atraídas decerto pela beleza, a muita quantidade de água existente e a luxuriante vegetação própria para pastorear os gados e para a caça.

Por isso não será difícil de compreender que este vale nesses longínquos tempos, quando a arborização das encostas sustinham as terras imobilizadas, as águas pluviais não tinham ainda levado para os campos de Coimbra e dali para o oceano, as milhares toneladas de terras em conjunto com o calcário que anualmente para ali se deslocavam.Existem provas de que a presença humana no Vale de Loriga existe há mais de cinco mil anos.

Não restam dúvidas de que Loriga é de facto uma localidade muito antiga. Sabe-se até, que,segundo alguns historiadores,diversos antigos documentos,e pela tradição local,ter sido mesmo o berço de Viriato, um desses pastores que se viria a tornar um herói do povo Lusitano nos anos de 140 antes de Cristo.

É também, nos relatos dos muitos historiadores de que temos conhecimento, de quanto custou aos romanos a incorporação desta região lusitana no seu império, sendo visíveis em Loriga vestígios

dessa passagem que para eles era a "Lorica" nome que deram à "Lobriga" dos Celtas e dos Lusitanos.

Lobriga foi então um forte bastião da resistência lusitana,numa serra habitada por uma das tribos mais aguerridas da Lusitânia.Esses factos,e a posição estratégica da então Lobriga,explicam o facto de os Romanos lhe terem posto de Lorica,nome de couraça guerreira.Aliás,os soldados e legionários romanos usavavam diferentes tipos de Lorica.É fácil, pois, de compreender ser esta localidade muito antiga, existir muito antes da chegada dessa civilização romana à Península Ibérica, e ter sido baptizada com esse nome.Um nome tão histórico e plurimilenar como a povoação à qual foi dado,e por isso a couraça guerreira é a peça central e principal do brasão histórico da vila.

As rochas de forma arredondada, que os geólogos designam com o nome técnico de glaciais e que vemos em tão grande quantidade, nos lugares conhecidos por Bouqueira, S.Bartolomeu e Fonte Sagrada,Chão da Ribeira, indicam-nos os efeitos da acção erosiva do galciar,quando encontrou este terreno menos sólido que fica a nascente da freguesia.Essas rochas foram arrancadas à massa granítica mais sólida,arrastados pelo glaciar,trazidos da parte mais alta do vale,e depositados nas áreas onde o glaciar encontrou começou a encontrar terreno menos resistente à erosão.

Mas,de tudo o que se vai sabendo da história antiga de Loriga, não restam dúvidas, de que os primeiros habitantes desta região de Loriga foram pastores e agricultures e que rápidamente cresceram em comunidade e fundaram a povoação há mais de dois mil e seiscentos anos naquela colina entre ribeiras.

Os próprios rebanhos aumentaram prodigiosamente em pouco tempo, os homens foram ampliando as suas rudimentares habitações segundo as suas necessidades, os cercados e cortes para abrigo dos animais foram igualmente surgindo, o gado e o leite constituía o principal alimento da população e a lã era o elemento indispensável para a indumentária.A primitiva povoação castreja,estava localizada onde hoje existem a Igreja Matriz e a parte superior da Rua de Viriato, sendo protegida por muros e paliçada de madeira.Da época pré-romana existe,por exemplo,uma sepultura antropomórfica com cerca de dois mil e seicentos anos,num local que devido a esse facto é

conhecido por Campa.

Loriga, foi também uma importante povoação visigótica. Foram mesmo os Visigodos que começaram a usar a versão actual de Lorica, nome romano da localidade, ou seja, Loriga,e foram eles que construíram os primeiros templos cristãos.Um desses templos era uma ermida dedicada a S.Gens,sendo hoje uma capela com orago de Nossa Senhora do Carmo.Com os séculos,os Loricenses mudaram o nome de S.Gens para S.Ginês,sendo esse o nome dado ao bairro do centro histórico da vila,que existe actualmente na àrea.

Loriga e a sua Origem

Sendo esta localidade muito antiga não foi ainda possível datar com precisão, a origem e o príncipio desta povoação,sabendo-se apenas que existe há mais de 2600 anos,e que as primeiras habitações foram construídas na colina onde hoje existe o centro histórico da vila, na àrea onde hoje existem a Igreja Matriz e parte superior da Rua de Viriato.

Nos anos 753 a.c. - 476 d.c. o Império Romano conquistou e dominou grande parte do mundo ocidental, desde Roma ao Médio Oriente, Europa, norte de África, parte de Ásia, e total dominador do litoral do Mar Mediterrâneo. A Península Ibérica foi também uma das conquistas, sendo dividida em três províncias, a mais ocidental, chamada Lusitânia, incluía os Montes Hermínius (actual Serra da Estrela) onde Loriga se encontra situada,a maior parte do actual território português,e ainda uma parte do actual território espanhol,a sul do Douro,até Toledo,e incluía inicialmente a actual Galiza.

Após a conquista,os romanos apressaram-se,no século primeiro antes de Cristo, a ligar por estrada esta localidade estratégica de Lorica,situada bem próxima do ponto mais alto dos Hermínius.

Quando o império Romano se desmoronou no século V, a Península Ibérica começou a ser ocupada com povos oriundos dos mais diversos lugares mesmo até de zonas longínquas da Europa central. A região de Loriga não fugiu à regra, por isso mesmo, existem vestígios e até lendas dessa passagem, mas aqueles que mais vestígios deixaram foram de facto os Romanos.

Os Celtas,e depois os Lusitanos,eram senhores desta região serrana dos Montes Hermínios desde a época pré-romana.Os Lusitanos tinham como seu líder o Loricense e grande chefe Viriato, filho de pastor e grande conhecedor destas terras.

Alguns registos escritos da história de Loriga

Não parece restar qualquer dúvida, que muitos documentos ou mesmo simplesmente registos, referentes a Loriga, foram desaparecendo de forma estranha e até suspeita e conveniente.

Esses desaparecimentos foram acontecendo através dos tempos, mas mais acentuados em meados do século XIX, quando da reforma administrativa então ocorrida.. Alguns até, encontrando-se na Torre do Tombo, nem por isso escaparam.Os forais mais antigos desapareceram de forma estranha e conveniente,e até o foral novo de D.Manuel I chegou aos nossos dias amputado de algumas páginas. É  que, durante as reformas administrativas então em curso,Loriga foi vítima de uma cabala

montada pelos chamados Liberais e por influentes senenses,tendo,em consequência disso,sido extinto o Município Loricense,como vingança pelo apoio dado aos ditos Absolutistas,e o respectivo território "entregue" ao concelho de Seia.Uma grande injustiça,e um grande erro político e administrativo,

como tem vindo a comprovar-se!Esses documentos eram um dos mais importantes argumentos dos Loricenses contra a extinção do seu município,e não é por acaso que ainda hoje os senenses tendem a substimar,a denegrir e a adulterar a história de Loriga,e os mais retrógados ainda se sentem incomodados com coisas, como por exemplo o facto de Loriga ter a categoria de vila.

Mesmo assim, de uma ou de outra forma, lá se vão encontrando alguns registos, que são muito pouco para uma localidade antiquíssima, como é Loriga,mas que nos dizem que a sua história,nomeadamente a municipal,é mais antiga do que a referida por algumas fontes tendenciosas e pouco rigorosas de alguns pseudohistoriadores,copiadores e afins.

A propósito do Município Loricense,sabe-se por várias referências explícitas ou implícitas encontradas em diversos antigos documentos,que a história municipal de Loriga remonta ao século XII,muito antes do que alguns autores tendenciosos e pouco rigorosos quiseram fazer crer!

Viriato - O grande leader dos Lusitanos *

Todos os grandes historiadores, começando pelos romanos antigos, elogiam as grandes qualidades de Viriato. Nelas se destacam, a inteligência, o humanismo, a capacidade de liderança, e a sua grande visão de estratega militar e político.A este grande homem, que liderou os antepassados dos portugueses, os Lusitanos, os romanos só conseguiram vencer recorrendo à vergonhosa traição cobarde.Este homem, tal como muitos outros que ficaram nahistória, tinha origens humildes, provando-se na época, talcomo hoje, que as capacidades individuais não dependemdo estracto social, nem das habilitações académicas.

Viriato, era apenas um pastor, habituado desde criança a percorrer as altas montanhas dos Hermínios (actual Serra da Estrela), onde nasceu, e que conhecia como a palma das suas mãos. Conhecia inclusive as povoações lusitanas da serra, como Lobriga à qual os romanos puseram o nome de Lorica (nome de antiga couraça guerreira) devido à sua posição estratégica na serra e por ter sido um forte bastião da resistência lusitana. A povoação surgiu originalmente no mesmo local onde está o centro histórico da vila, uma colina entre duas ribeiras.

Do latim Lorica, derivou Loriga, com o mesmo significado, sendo um caso raro de uma povoação que mantém o mesmo nome, praticamente inalterado, há dois mil anos, nome que é altamente significativo da sua história e da sua antiguidade (por isso a couraça é a peça central e principal do brasão histórico da vila).

* António Conde (grande Loricense e historiador de Loriga)

Viriato nasceu em Loriga - Mito ou Realidade

Nos registos antigos,nomeadamente dos próprios historiadores romanos, o nome referenciado era Viriatus, e ficou conhecido na história como uma figura de grande relevo,um heroi histórico para os Lusitanos,e para os seus descendentes portugueses.

Nos Montes Hermínios (hoje Serra da Estrela) foi pastor, guerreiro, chefe e líder incontestado e admirado dos Lusitanos.

Foi assassinado pelos seus próprios companheiros, chamados Andas, Pitalco e Minuro, depois de os Romanos os terem subornado, com promessa de uma recompensa, que nunca chegaram a receber.Uma saída desonrosa para a superpotência da época,que se autoproclamava arauto da civilização,e um acontecimento que ainda hoje desprestigia Roma.

Outras localidades da região da Serra da Estrela (antigos Montes Hermínios) reclamam para si o local do nascimento dessa figura histórica que de facto nasceu nessas montanhas,mas nenhuma consegue ombrear com Loriga.

A história, vai-nos também dando conta de dados referentes a uma ligação entre Viriato e "Lobriga", ou "Lorica" pois era assim que os Romanos chamavam à actual Loriga. Por isso,há muitos séculos que existe nos Loricenses uma forte convicção de que na realidade foi Loriga o berço de Viriato.

Como recorte de história aqui se faz a transcrição de um registo existente no Livro Manuscrito História da Lusitânia, pelo Bispo Mor do Reino em 1580.

...Sucedeu o Pastor Viriato natural de Lobriga hoje Villa de Loriga no cimo da Serra da Estrella Bispado de Coimbra; ao qual tendo quarenta annos de idade acclamarão Rey dos Luzitanos e cazou em Évora com huma nobre Senhora no anno 147. Prendeo em batalha ao Pretor Romano Caio Vetílio e lhe degolou 4.000 soldados; a Caio Lucitor dahi a huns dias matou 6.000 mil. Ao capitão Caio Plaucio matou Viriato mais de 4.000 junto a Toledo. Reforçou-se o dito

Capitão e dando batalha junto de Évora prendeo 4.000 soldados.

No anno 146 o Pretor Claudio Unimano lhe deu batalha e de todo foi destruido por Viriato que repartio os despojos pelos soldados pondo nos montes mais altos da Lusitania os eztendartes Romanos.

Uma das referências antigas sobre Loriga

Um dos registos antigos da história de Loriga, é aquele que vamos encontrar nas Inquirições de 1258, mandadas fazer pelo Rei D.Afonso III, que tinha como objectivo averiguar judicialmente a natureza das diversas propriedades e dos direitos senhoriais, a fim de fazer restituir à Coroa Real os direitos que as classes privilegiadas vinham desde à muito usurpando ilegitimamente.

Os inquiridores na região da Serra da Estrela registaram que as herdades dos fidalgos estavam todas sujeitas a encargos perante o Rei exceptuando as que haviam pertencido a D.João Viegas, com o alcunha de "Ranha" e assim mencionado:

("excepto Sandimir et Loriga et aliae que fuerunt de donno Johanne Rania")

Foi o próprio,o rei D.Afonso III,que em 1249 deu o primero foral régio à já então vila de Loriga.

D.Afonso Henriques por carta de 16/5/1131 entregou a posse de muitas terras do actual concelho de Seia a D.João Viegas "Ranha" por este o ter ajudado a vencer dois fidalgos senenses (Aires Mendes e Pêro Pais) que se tinham revoltado contra ele.

Foi o próprio D.João Viegas,senhor das Terras de Loriga durante cerca de duas décadas,que em 1136 concedeu o primeiro foral à vila de Loriga.

Sabe-se que,segundo referências encontradas em Inquirições,que Loriga já tinha foral em 1222, sendo esse primeiro foral um dos documentos mais importantes que desapareceram.

Portanto,Loriga recebeu forais de João Viegas,senhorio das Terras de Loriga durante cerca de duas décadas,no reinado de D.Afonso Henriques em 1136,de D.Afonso III em 1249,de D.Afonso V em 1474,e de D.Manuel I em 1514.

Alguns documentos antigos sobre Loriga

Um dos registos mais interessantes, como documento, que até hoje existm sobre Loriga, é o da confirmação da doação do Foral e da Jurisdição Civil e Criminal de Loriga a Álvaro Machado datado de 22 de Agosto de 1474, que a seguir se transcreve em parte:

"...Dom Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquem e dalém mar em Àfrica, a quantos esta carta virem fazemos saber que a nós foi apresentada uma carta que tal é:

Dom Afonso.... A quantos esta carta virem fazemos saber que confirmando nós a acareação que feita temos, em Àlvaro Machado fidalgo da nossa raça e aos serviços que dele e de seu pai temos recebido e esperamos que ao adiante nos faça, temos por bem dar-lhes que ele tenha o uso de nós, em toda a sua vida, à jurisdição civil e criminal do lugar de Loriga que ele de nós tem.

Ressalvamos para nós a correcção e alçada.

E porém, mandamos a todos os nossos corregedores, juízes de justiça oficiais e pessoas que istoouverem dizer e esta nossa carta for mostrada que lhe deixem usar a dita jurisdição, como dito é, sem lhe porem sobre isso qualquer embargo porque assim é a nossa mercê, de lhe assim ser feito sem embargo de qualquer lei de direito canónico e civil, grossas propensões de doutores que em contrário disso seja...

Dada em Lisboa aos 22 dias de Agosto, Cristóvão de Barros a fez no ano de 1474..."

Esta carta foi confirmada ainda por solicitação de Álvaro Machado nos seguintes termos:

"...Pedindo o dito Álvaro Machado que lhe confirmássemos a dita carta e visto que nós seu requerimento, querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem lha confirmarmos e a havermos por confirmada da maneira que dito é: E porém mandamos os nossos editais para a justiça que assim lhe cumpram e façam muito inteiramente cumprir e guardar...

Dada em Lisboa, aos nove dias de Maio João Pais a fez, no ano de 1497..."

D.Afonso V concedeu foral à vila de Loriga em 1474 e concedeu as Terras de Loriga a Luís Machado, pai de Àlvaro Machado,que era também senhor de Sandomil e Oliveira do Hospital.D.Manuel I

confirmou tudo isso,mas após o falecimento do referido fidalgo,as Terras de Loriga volaram a ser pertença da Coroa.

A título de curiosidade,este documento, foi publicado no Jornal "A Neve" em Março de 1949.

Significado da palavra "Lorica" ou "Loriga":

"Saio de malha usado pelos antigos guerreiros, coberto de lâminas de aço ou escamas de ferro" Primitivamente a Lorica era fabricada de loros ou correia de couro crú,passando depois a ser metálica, e a mais conhecida eram os tipos de Lorica usados pelos legionáros romanos.

Loriga sede de Concelho

Loriga e área envolvente era couto senhorial no século XII, revertendo então para a coroa, e em 1249,quando recebeu o primeiro foral régio de D. Afonso III,já era pertença real.

Em 1474, D. Afonso V, concedeu-lhe novo foral e Loriga que pertencia à Coroa foi doada ao fidalgo Álvaro de Machado, como recompensa pelos serviços prestados ao rei.Àlvaro Machado era filho e herdeiro de Luís Machado,e era também senhor de Sandomil e Oliveira do Hospital.

No ano de 1514, D. Manuel I deu à vila de Loriga um novo foral, o último e o mais completo dos Forais Régios, que chegou aos nossos dias,e durante esse reinado Loriga voltou à posse da Coroa.

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Loriga, foi Sede de Concelho desde 1136,sendo infelizmente extinto em 28 de Outubro de 1855.

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A orgânica de Loriga até 1855

Tinha no seu governo civil:- Um Juiz Ordinário, dois Vereadores, um Procurador do Concelho, Escrivão da Câmara, um Tabelião, um Alcaide, uma Companhia de Ordenanças com Capitão-

Mor e Sargento-Mor.

Possuía Câmara Municipal e Cadeia que, segundo consta, a espessura das suas paredes era de 1,80 metros. Em 1881, os registos dão-nos conta do local exacto onde se encontrava o referido

edifício:

".....na parça d´esta vila, que parte a nascente, poente e norte com via pública e do sul com José

dos Reis de Loriga".

Após a extinção do Concelho de Loriga (1855) o referido edifício serviu de escola primária do sexo masculino, tendo depois sido comprado, na última década de 1890, pelo industrial loricense Manuel Leitão, que depois o transformou, nessa altura encontrava-se já em ruínas.

Tinha ainda o Pelourinho,erigido no século XIII após ter recebido Foral do rei D.Afonso III.

Chegaram a fazer parte do Concelho de Loriga as povoações de:- Valezim; Sazes da Beira;

Vide; Alvoco da Serra; Teixeira; Cabeça e ainda pequenos lugares ou casais como eram assim chamados.

O Concelho de Loriga começava na zona das Pedras Lavradas, até à Portela de Loriga (Arão) onde fazia fronteira com o couto de S.Romão. De 1836 a 1855 ultrapassava a Portela por ter sido nessa altura incluído Valezim e Sazes da Beira.

Alvoco da Serra deixou de pertencer ao Concelho de Loriga em 1514, data em que recebeu o Foral de D.Manuel I, mas voltou a ser incluído novamente no mesmo em 1828.

Vide excluída do concelho de Loriga no século XVII,quando recebeu um foral tardio, mas viria a ser novamente incluída no Município Loricense em 1834.

A Paróquia de Loriga foi correspondente à àrea do Município Loricense,e mesmo quando algumas localidades do concelho adquiriram autonomia administrativa (entre os séculos XVI e XIX),

começando por Alvoco e seguindo-se Vide,estas localidades continuaram dependentes de Loriga

na administração eclesiástica.

Loriga pertencia,desde o século XII,à Vigariaria do Padroado Real,e a Igreja Matriz,dedicada a Santa Maria Maior,foi mandada construír 1233 pelo rei D.Sancho II no lugar de um pequeno templo visigótico,do qual foi aproveitada uma pedra que foi colocada numa das portas laterais.

A igreja era era um templo de estilo românico,com três naves,e traça exterior lembrando a Sé Velha de Coimbra,tendo sido destruída pelo terramoto de 1755.Da primitiva igreja restam partes das paredes laterais.

O terramoto de 1755 foi especialmente violento em Loriga,principalmente pelo facto de as ondas sísmicas se terem deslocado para Nordeste e o massiço granítico da Serra da Estrela ter funcionado como uma barreira à propagação dessas ondas.Loriga,na parte sudoeste da Serra da Estrela,estava no limite dessa barreira e por isso sofreu com violência o impacto das ondas sísmicas.O mesmo problema afectou a Covilhã,e em contrapartida as localidades situadas do lado oposto da serra foram pouco afectadas.Porém,ao contrário do que aconteceu com a Covilhã,a vila de Loriga não recebeu qualquer auxílio do governo do Marquês de Pombal.

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Alguns documentos históricos e Foral novo atribuido a Loriga pelo Rei

D.Manuel em 1514

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Transcrição de uma parte do Foral dado ao Concelho de Loriga por D.Manuel I:

"Dom Manuel,...

Pagará toda pessoa que laurar com Jugada de bois ou vacas doze alqueires desta medida corrente todos de centeo et se laurarem com hü boy a meatade et seo seareiro et cauam que laurar pam, pagara da medida velha hü alqueire et nam se paga no dito lugar foro outro de nehüa causa que sêmea nem colham assy do vinho et linho como de todalhas outras nouidades e fruitas.

E pagaram mais ao senhorio da dita Terra os foros de denheiro et galinhas que algüas pessoas lhe pagam sem serem a ysso mais obrigados as pessoas

que os ora nam pagam ficando rresguardado a hüs et aos outros quanao mostrarem foral lhe seer per elle guardada sua justiça. Nom ha montado nesta Terra por quato no veraão amda com ho outro nosso da serra. Et no Ynuerno nam ha hy nehü pasto. Os manihos sam do concelho com o foro da Terra. A pensam do tabaliam pagase nesta vila. Da pena darma se leuaram dusetos Reaes e as armas perdidas s quaaes penas se nom leuarem quando apunnarem espada ou qualquer outra arma sem atirar, nem sem preposito em Rexa noua tomarem praao ou pedra posto que fezerem mall et posto que de proposito as tomem senom fazerem mal com ellas nam pagaram. Nem a pagara moço de quinze annos pera baixo nem molher de qualquer idade e filhos et escravos tirarem sangue. Nem os que sem arma tirarem sangue com bofetada ou punhada nem quem dfendimento de seu corpo ou por apartar e estremar outros em arroydo tirarem armas posto que com ellas tirem sangue hem escravos de qualquer idad que sem ferro tirar sangue. O gado do vento he de direito Real et arrecadarsea na dita villa per nossa ordenaça com decaçam que a pessoa a cuja mão for ter escreuer a dez dias priemeiros seguintes so pena de lhe ser demandado. Portagem no se levará mais no dito lugar por que nam se mo trou titollo nem tall posse para se deve de levar. A qual quer pessoa que for contra este nosso forall leuando mais dereitos dos muy nomeados ou leuando destes mayores conthias das aquy decraradas ho annos por degra dado hu anno ffora da villa et termo et mais pagara da catrinta reaes por hu de todo que assy mais leuar. Et se a nom quizer leuar se ja a metade pera os cativos et a outra para quem ho acusar. Et damos poder a quall quer Justiça honde acontecer assy quiser como vintaneiros ou quadrilheiros que sem mais proceso nemhordem de juizo sumariamente sabida a verdade comdenem os culpados no dito caso de degredo et assy do denheiro atee nous mill rreeas sem apelaçam nem agravo et sem disso poder conhecer almoxarife nem contador nem outro oficial nosso de nossa fazena em caso que o hy aja & seo senhorio dos ditos dereitos o dito forall quebrantar per si ou outrem seja logo sospenso delles et da jurdicam do dito lugar se at uer emquanto nossa merecê for & mais as pessoas que em seu noou por elle o fazerem encorreram nas ditas peas e almoxarifes se primace e officiaes dos ditos direitos que o assy nom comprire perderam os ditos officios et nam queram mais os outros. & portantomandamos que todollas cousas contheudas neste forall que nos poemos por ley se cumpram para sempre do theor do quall mandamos fazer tres hü delles para a camada villa & outra para o Senhorio dos ditos dereitos. & outra para a nossa torre do tombo pera em todo tempo se poder tirar quall quer duvida que sobre isso possa sobrevir, dada hanossa muy nobre et sempre leal cidade de Lisboa aos quinze dias do mes de Fevereiro era do açimento de nosso Senhor ihü xpõ de myll quynhentos et quatorze annos. E sobscprito por Fernam de Pina

Em oito folhas."

(Documento histórico de alta transcendência para Loriga, reproduzido na integra, respeitando o português

arcaico)

Infelizmente,Loriga deixou de ser Sede de Concelho, em 28 de Outubro de 1855, passando a partir dessa data a fazer parte do actual Concelho.

Acta escrita no "Arquivo Municipal" ..........Extintos Concelhos.....

Extinto Concelho de Loriga-Pasta n.1 -Livro n.2 - Folhas 193 e seguintes: Livro das Sessões da Câmara de Loriga....

No ano de 1832, existiam nada menos de 796 concelhos no reino de Portugal. Por volta de 1855, com a alteração orgânica do país, foi pensado acabar com alguns concelhos e até condados. Por decreto-lei do ministro Passos Manuel, viriam a ser extintos, de uma só vez 455 municípios, onde foi incluído o de Loriga. O reino, passou então a ter 341 concelhos que foram progressivamente diminuindo. E, no ano de 1878, o país estava dividido em 17 Distritos e 299 concelhos, no Continente e ilhas, dos quais 263 eram no Continente.

*

Nota:- Baseados em relatos e registos da época, sabemos que a extinção do concelho de Loriga,

não se deveu só ao facto da alteração orgânica do país.

Loriga que era sede de concelho desde o século XII, pagou caro o apoio dado aos "absolutistas" contra os "liberais". Numa época em que a consciência democrática era inexistente, havia retaliações para quem tinha ideias diferentes das de quem detinha o poder.

Por isso, sabe-se que a extinção do Concelho de Loriga, teve a ver com vingança politica e interesses expansionistas de quem beneficiou com o facto,e não com motivos admistrativos, por isso tal facto foi uma verdadeira injustiça que os Loricenses nunca esqueceram.

A Região de Loriga,àrea do antigo Município Loricense,constitui a Associação de Freguesias da Serra da Estrela,com sede na vila de Loriga.

Relatos curiosos - Vila de Loriga - Ano 1758 *

****

Resposta do vigário de Loriga ao interrogatório de 1758

(A.N.T.T.- MEMÒRIAS PAROQUIAIS, Vol.21, m. 124, fl. 1147-1153)

****

Loriga

C.Guarda BC

REV.º SR. DR. PROVISOR

Satisfazendo ao cumprimento desta ordem, pelos interrogatórios expedidos, de tudo o que consta ser esta freguesia e todo o seu termo, declarando tudo pelo miúdo, na verdade e inteiramente do que é chamado tema se dizer o seguinte:

1 - Que esta freguesia da Vila de Loriga é de Província da Beira e do Bispado de Coimbra, comarca da cidade da Guarda, termo desta mesma Vila.

2 - Esta Vila é, e sempre foi de sua Real Magestade.

3 - Consta esta Freguesia ter cento e outenta e quatro vizinhos e número de pessoas seiscentas e outenta.

proposito as tomem senom fazerem mal com ellas nam pagaram. Nem a pagara moço de quinze annos pera baixo nem molher de qualquer idade e filhos et escravos tirarem sangue. Nem os que sem arma tirarem sangue com bofetada ou punhada nem quem dfendimento de seu corpo ou por apartar e estremar outros em arroydo tirarem armas posto que com ellas tirem sangue hem escravos de qualquer idad que sem ferro tirar sangue. O gado do vento he de direito Real et arrecadarsea na dita villa per nossa ordenaça com decaçam que a pessoa a cuja mão for ter escreuer a dez dias priemeiros seguintes so pena de lhe ser demandado. Portagem no se levará mais no dito lugar por que nam se mo trou titollo nem tall posse para se deve de levar. A qual quer pessoa que for contra este nosso forall leuando mais dereitos dos muy nomeados ou leuando destes mayores conthias das aquy decraradas ho annos por degra dado hu anno ffora da villa et termo et mais pagara da catrinta reaes por hu de todo que assy mais leuar. Et se a nom quizer leuar seja a metade pera os cativos et a outra para quem ho acusar. Et damos poder a quall quer Justiça honde acontecer assy quiser como vintaneiros ou quadrilheiros que sem mais proceso nemhordem de juizo sumariamente sabida a verdade comdenem os culpados no dito caso de degredo et assy do denheiro atee nous mill rreeas sem apelaçam nem agravo et sem disso poder conhecer almoxarife nem contador nem outro oficial nosso de nossa fazena em caso que o hy aja & seo senhorio dos ditos dereitos o dito forall quebrantar per si ou outrem seja logo sospenso delles et da jurdicam do dito lugar se at uer emquanto nossa merecê for & mais as pessoas que em seu noou por elle o fazerem encorreram nas ditas peas e almoxarifes se primace e officiaes dos ditos direitos que o assy nom comprire perderam os ditos officios et nam queram mais os outros. & portantomandamos que todollas cousas contheudas neste forall que nos poemos por ley se cumpram para sempre do theor do quall mandamos fazer tres hü delles para a camada villa & outra para o Senhorio dos ditos dereitos. & outra para a nossa torre do tombo pera em todo tempo se poder tirar quall quer duvida que sobre isso possa sobrevir, dada hanossa muy nobre et sempre leal cidade de Lisboa aos quinze dias do mes de Fevereiro era do açimento de nosso Senhor ihü xpõ de myll quynhentos et quatorze annos. E sobscprito por Fernam de Pina Em oito folhas."

(Documento histórico de alta transcendência para Loriga, reproduzido na integra, respeitando o português arcaico)

Infelizmente,Loriga deixou de ser Sede de Concelho, em 28 de Outubro de 1855, passando a partir dessa data a fazer parte do actual Concelho.

Acta escrita no "Arquivo Municipal" ..........Extintos Concelhos.....

Extinto Concelho de Loriga-Pasta n.1 -Livro n.2 - Folhas 193 e seguintes: Livro das

Sessões da Câmara de Loriga....

No ano de 1832, existiam nada menos de 796 concelhos no reino de Portugal. Por volta de 1855, com a alteração orgânica do país, foi pensado acabar com alguns concelhos e até condados. Por

decreto-lei do ministro Passos Manuel, viriam a ser extintos, de uma só vez 455 municípios, onde foi incluído o de Loriga. O reino, passou então a ter 341 concelhos que foram progressivamente

diminuindo. E, no ano de 1878, o país estava dividido em 17 Distritos e 299 concelhos, no Continente e ilhas, dos quais 263 eram no Continente.

*

Nota:- Baseados em relatos e registos da época, sabemos que a extinção do concelho de Loriga, não se deveu só ao facto da alteração orgânica do país.

Loriga que era sede de concelho desde o século XII, pagou caro o apoio dado aos "absolutistas" contra os "liberais". Numa época em que a consciência democrática era inexistente,

havia retaliações para quem tinha ideias diferentes das de quem detinha o poder.

Por isso, sabe-se que a extinção do Concelho de Loriga, teve a ver com vingança politica e interesses expansionistas de quem beneficiou com o facto,e não com motivos admistrativos,

por isso tal facto foi uma verdadeira injustiça que os Loricenses nunca esqueceram. A Região de Loriga,àrea do antigo Município Loricense,constitui a Associação de Freguesias da

Serra da Estrela,com sede na vila de Loriga.

Relatos curiosos - Vila de Loriga - Ano 1758 *

****

Resposta do vigário de Loriga ao interrogatório de 1758

(A.N.T.T.- MEMÒRIAS PAROQUIAIS, Vol.21, m. 124, fl. 1147-1153)

****

Loriga

C.Guarda BC

REV.º SR. DR. PROVISOR

Satisfazendo ao cumprimento desta ordem, pelos interrogatórios expedidos, de tudo o que consta ser esta freguesia e todo o seu termo, declarando tudo pelo miúdo, na verdade e inteiramente do

que é chamado tema se dizer o seguinte:

1 - Que esta freguesia da Vila de Loriga é de Província da Beira e do Bispado de Coimbra, comarca da cidade da Guarda, termo desta mesma Vila.

2 - Esta Vila é, e sempre foi de sua Real Magestade.

3 - Consta esta Freguesia ter cento e outenta e quatro vizinhos e número de pessoas seiscentas

e outenta.

4 - Está situada esta Vila em o meio de sete cabeços: três para parte de nascente, chamados um a perna de um homem pintada ou esculpida em uma fraga do mesmo cabeço; outro chamado a penha do gato, tem este nome por se achar nele algum dia a figura de um gato esculpida; outro chamado a fermosa, não consta de onde tomou este nome. Tem dois para a parte do poente, um chamado a penha de águia e outro o cabeço do castelo, tomou este nome do tempo dos mouros ainda hoje conserva nele vestígios dos alicerces dos muros; tem outros dois, um para a parte do norte chamado o cabeço de São Bento por nele se achar uma imagem do glorioso São Bento; outro da parte sul chamado a pedra incavalada, por ter uma grande pedra atravessada no cimo do dito cabeço; e desta Vila ao cimo de todos estes cabeços dista meia légua e da vila não se descobre povoado.

5 - Tem esta Vila termo seu, compreende somente o Casal da Cabeça, consta dezasseis vizinhos.

6 - A Paróquia está situada no meio da Vila. Tem a freguesia o dito lugar da Cabeça e o Casal do Fontão, obrigados a esta freguesia; consta este Casal de seis vizinhos e pertence ao termo de Alvoco da Serra.

7 - O Orago desta freguesia é a Senhora Santa Maria Maior. A Igreja tem cinco altares: um de S. Bento, outro de Santa Luzia, outro de Nossa Senhora do Rosário e outro das Almas, tem uma só

nave e não tem irmandade alguma.

8 - O Pároco é vigário, é da apresentação de Sua Real Magestade, tem quarente mil reis de côngrua e meio de vinho para as missas.

9 - Não tem beneficiados, porém apresenta o curato da Vila de Alvoco da Serra, que dista uma légua desta Matriz.

10 - Não tem conventos.

11 - Não tem hospital.

12 - Não tem misericórdia.

13 - Tem cinco ermidas; duas na Vila, uma de Santo António, ao cimo da Vila, outra de S. Gens a um lado da Vila, outra de S. Sebastião, duzentos passos distante da Vila no caminho que vai para a Vila de Valezim, tem outra no Casal da Cabeça com a imagem do Glorioso São Romão e outra no Casal do Fontão com uma imagem do glorioso Santo António; todas pertencem ao povo.

14 - Não acodem a estas ermidas romeiros em tempo algum do ano.

15 - Os frutos da terra que os moradores recolhem são centeio e castanhas, porém não é suficiente para se sustentarem os moradores da terra.

16 - Tem esta Vila Juiz Ordinário, vereadores, almotacém e procurador, e oficial escrivão, o qual se acha pago de escrivão proprietário; estas justiças não sujeitas, digo não estão sujeitas a outras justiças de outra terra, excepto a Sua Magestade.

17 - Não é couto, nem cabeça de outro concelho, honra ou beetria.

18 - Não consta que desta Vila saíssem homens insignes por virtudes, nem letras; só consta que o grande Viriato, insigne nas armas, nascera em esta terra, porém não há memória disto mais do

que falar o dando por seguido que ele nascera em estas terras ou serras.

19 - Nesta Vila não há feira alguma.

20 - Também não tem correio.

21 - Dista esta Vila da cidade de Coimbra catorze léguas e da de Lisboa quarenta e quatro.

22 - Não tem esta terra previlégios, antiguidades, nem outras cousas dignas de memória.

23 - Não há nesta freguesia lagoas, sim partem como termo, de que dão conta o prior de S. Romão e o Vigário de Seia por serem do seu distrito. Há uma fonte chamada dos pérus? de

qualidade tão fria que não pode consentir uma mão dentro dela por espaço de cinco minutos.

24 - Não tem esta freguesia porto do mar.

25 - Não tem muros, nem precisa deles, porque ainda que venha todo o poder das armas do mundo não derriba os setes cabeços.

26 - Padeceu ruína a Capela Mor desta Igreja em sua abóboda e paredes de tal sorte que não conserva o Santíssimo Sacramento nem imagens algumas na dita Capela, pelo evidentíssimo perigo que o restante se está vendo em cair a dita capela de que já dei duas contas à Mesa da Consciência e tenho certeza de que foram entregues, porém até ao presente se não passou provisão para se repararem as ditas ruínas, como também o retábulo da dita Capela que se acha todo desbaratado e a casa da residência toda especada para a parte da rua, que já lhe caiu numa grande parede por causa das ruínas que causou o grande terramoto do primeiro de Novembro de mil setecentos e cinquenta e cinco: e mais algumas casas desta freguesia; as ruínas da Igreja e casas da residência, é obrigado a mandar reparar o Excelentíssimo Senhor Monteiro-Mor deste  Reino, como Comendador que de presente é desta Igreja.

27 - Não há mais de que se faça memória que aqui possa dizer a estes interrogatórios.

 

Notícia da Serra deste termo e freguesia

1 - Chama-se esta Serra o Malhão da Estrela.

2 - Tem esta serra duas léguas de comprimento e uma de Largura. Principia à fonte dos pérus? e acaba na Vila da Covilhã.

3 - O principal braço desta Serra um sitio onde estão duas fragas muito eminentes chamados os Cântaros.

4 - Desta Serra nasce uma Ribeira chamada Ribeira dos Covelos, a qual vem por entre fragas uma légua, passa junto desta Vila, esta de verão enche à tarde com muito ........................ por respeito da muita neve que na mesma Serra se derrete, que em sitios se não acaba de derreter em todo o verão. Corre esta de nascente para poente, mete-se na Ribeira d´Alva na Vila da Vide. Esta Ribeira não tem navegação.

5 - Esta Serra não tem lugares nem povoações.

6 - Não há mais fontes notáveis neste distrito do que o que acima foi nomeado.

7 - Não consta haver nesta Serra minas de metais e menos canteiros de pedras ou de outros materiais de estimação.

8 - Esta Serra tem plantas de Zimbro que dá suas bagas estimáveis para flatos e outras curas medicinais; também nela nasce uma erva chamada argensana muito aprovada para dores através de grandes rodas hidráulicas movimentadas pelas abundantes àguas das ribeiras.O movimento era transmitido a tambores e correias que por sua vêz faziam movimentar os teares, bobinadoras,e outras máquinas.

Nomes dos muitos locais de Loriga Olhando a região de Loriga e tudo que há em seu redor, é de realçar o facto de não haver um simples local que não tenha o respectivo nome. Uns oficialmente registados, outros popularmente

assim chamados, não resta a menor dúvida que, muitos desses locais, já eram mencionados nos primeiros escritos conhecidos sobre esta localidade, pelos nomes como hoje são assim

chamados. Poderá haver algum lapso de escrita, uma vez que alguns nomes nunca foram registados, mas sim apenas chamados verbalmente e transmitidos através das gerações.

Assim, aqui se registam os nomes dos muitos locais da região de Loriga. O registo de muitos destes nomes aqui descritos, devem-se também a transmissão verbal

"Açude; Alcaidas; Alqueves; Avenal; Azeiral; Batista; Bicarões; Baldio das Cascalheira; Barrancos; Barreiras de Coimbra; Barroca; Barroca do Ferreiro; Barroco; Biqueirões; Bouqueira;

Breijoeiras; Brejos; Buraca do Teixeiro; Cabecinha; Cabecitos; Cabeço; Cabeço do Ratinho; Cabris; Cagoiças; Calçadas; Calhão; Campa; Canada; Canada do Alqueves; Canada; Carreiro de

Àlvaro; Canada das Montezinhas; Casa dos Ingleses; Casa do Velhos; Cascalheira; Casinhas; Chão da Ribeira; Chão das Fontes; Chão das Relvas; Chão do Soito; Chão dos Dornes; Cide; Coiço do Barbas; Coiço do Botelho; Combaro do Meio; Combro do Mouro; Cortiçor; Corrisqueira; Coroa de Nossa Senhora; Costeiras; Covão da Ladeira; Duas Pontes; Eira do Alavão; Encerta; Encosta; Enxertada; Estuvaínha; Escorial; Falgareira; Feiteira; Feital do Coelho; Feiteira; Fontainhas; Fonte dos Amores; Fontes Covilhas; Fonte da Prata; Fonte dos Carreiros; Fonte Lasquinha; Fonte Longa; Fonte do Sabugeiro; Fonte dos Pais; Fonte do Perús; Fonte do Sapo; Fonte Sagrada; Fonte do Vale; Forcada; Foro; Fraga dos Almoços; Garganta; Giraldo; Januários; Ladeira; Lages; Lamas; Lameiro Lameais; Lameiro da Barroca; Lameiro da Redondinha; Lameiro do Regato; Lapa da Azinheira; Leirão; Lombo Torno; Luzianos; Malhapão; Malhapão da Cabeça; Malhada Chão do Lombo; Malhada do Fontão; Malhada Cimeira; Malhada da Dona Maria; Malhada da Carneira; Malhada Cimeira; Malhada do Corujo; Malhada do Boi; Malhada da Farrancha; Malhada Formosa; Malhada do Poio; Malhada de São Bento; Malhadinha do Grilo; Mestre Brava; Meia Légua; Mingudis; Moenda; Montesinhas; Mourinhos; Outeiro; Outeiro da Borralha; Outeiro da Barroca; Pedrouco; Peliteiros; Penedas; Penedo de Alvoco; Penha da Águia;

Penha dos Abutres; Penha do Gato; Pêro Negro; Perovelho; Pisão; Pisão do Barroel; Poio Mateus; Pomar; Ponte Nova; Portela de São Bento; Portela do Arão; Portinho Cego; Porvelho;

Presa; Pousinhos; Pousinhos da Ladeira; Quinta da Sónia; Quinta da Sónia; Regada; Resteves; Ribeiro da Cerejeira; Ribeiro da Ponte; Ribeiro do Cabrum; Rodeio Velho; Romeniscais;

Rosmaninheira; Safra dos Reis; Sanjoanas; São Bartolomeu; São Bento; São Sebastião; Seabra; Seixinho; Senhora da Guia; Senhora da Guia Nova; Serapitel; Servoeira; Somora; Surgaçal;

Taliscas; Tapada do Ameal; Tapada do Fontão; Tapada do Militar; Tapado; Tapada dos Piscos; Tapada Sanjoanas; Tapadões; Teixeiro; Torno; Tresposta; Uchas; Urgueiral; Valado; Vale

D.Pedro; Vale da Barroca; Vale da Merenda; Vale dos Alhós; Vale da Barroca; Vale das Videiras; Verdial; Veredas; Vista Alegre".

 

Poema a Loriga *

"Minha Terra Natal"

No ventre da montanha nasceste,

e te puseram o nome de Lorica.

Dos Celtas e dos Lusitanos foste baluarte.

De Viriato foste berço.

Quantos anos tens?...

Como nasceste?.. Como cresceste?..

A tua idade se perde na noite dos tempos,

e até o teu nome é milenar.

No rasto da tua história de séculos,

deixaste marcas de um honroso passado,

ainda hoje bem visíveis no teu burgo.

E quis a mãe natura emoldurar-te,

num quadro de fascínio e beleza,

tão real, que és uma festa para a vista.

Maravilha do Portugal desconhecido,

ainda hoje esperas que te lancem,

nos caminhos de um promissor futuro.

Vila industrial desde o início do século dezanove,

e os socalcos, falam do génio dos Loricenses.

Tu és montanha, granito, ravina, fraguedo,

cascata, ribeira, socalco, encosta, agreste,

com odor a rosmaninho, urze, giesta, alecrim.

No Verão és terna, fagueira, atraente,

hospitaleira, luz e cor, com cheiro a verde pinho.

E de espectaculares pores do Sol.

Na amenidade do Estio, ouve-se o canto

dos grilos e cigarras e o doce rumor das tuas águas deslizantes rumo ao mar,

e dos trinados das aves que cantam.

Mas no Inverno, também és, tempestade, torrente, nuvem, relâmpago, trovão, raio, corisco,

chuva, granizo, neve, gelo e frio intenso.

E continuarás crescendo dentro do espaço, que a lei natureza te impôs por limite, cabendo às vindoiras gerações que te esperam, a preservação da tua imagem física,

continuada através dos tempos sem fim.

* Um Loricense

 

 

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