28/11/2008

"Monarquia" do BPN irrita accionistas

O folhetim BPN, parece que ainda está no inicio!

Gestão: Filha e genro do ex-líder também eram quadros

Os accionistas do BPN não apreciaram que José de Oliveira e Costa contratasse o filho para a administração do BPN, em 2004, sem ter dado satisfações prévias aos proprietários do banco. À saída da reunião do conselho superior do banco onde Oliveira e Costa revelou a contratação do filho, os accionistas não escondiam a indignação.

Um accionista, que pediu o anonimato, recordou ao CM o comentário feito então: "Isto é uma monarquia. Estão cá a filha, o genro e agora o filho, e todos com ordenados chorudos."

José Augusto Rodrigues de Oliveira e Costa assumiu funções no conselho de administração do BPN a 27 de Fevereiro de 2004, mas os accionistas só foram informados semanas depois. "Nós só soubemos que o filho dele era administrador do BPN duas ou três semanas depois de ele ter tomado posse, numa reunião do conselho superior", garante a mesma fonte.

Para este accionista, a contratação do filho de Oliveira e Costa explica-se de forma simples: "Ele contratava quem queria e fixava o ordenado que entendia." E remata: "Havia uma comissão de remunerações, mas nunca funcionou."

O filho de Oliveira e Costa foi administrador até à nacionalização do BPN. A partir daí, passou a exercer funções num gabinete sem contacto com os clientes. Já a filha do ex-líder do BPN, Yolanda Maria, presidente da Datacomp, saiu do banco em Setembro. O genro terá saído também nessa altura.

Oliveira e Costa e a mulher, Maria Yolanda, divorciaram-se a 3 de Março de 2008. A mulher herdou bens no valor de, pelo menos, 3,2 milhões de euros. Oliveira e Costa ficou com as acções da SLN e uma conta no Millennium BCP no valor de vinte mil euros.

VENCIMENTO DOS GESTORES CUSTOU 2,86 MILHÕES DE EUROS

A remuneração dos órgãos de gestão e de fiscalização custaram no ano passado ao BPN, segundo o relatório e contas de 2007, um total de 2,86 milhões de euros, um aumento de cerca de 2,4 por cento face aos 2,80 milhões de euros registados no ano anterior.

O documento não apresenta uma repartição dos rendimentos anuais dos administradores, mas, segundo apurou o CM, José de Oliveira e Costa ganhava 500 mil euros por ano. Como a administração do BPN era constituída por sete membros, cada um dos administradores terá auferido um rendimento anual na ordem dos 390 mil euros.

Sendo o filho do ex-presidente do BPN, José Augusto Rodrigues de Oliveira e Costa, um dos administradores do BPN, a remuneração anual terá sido da ordem de 390 mil euros, tendo em conta o vencimento anual do pai como presidente do banco e da SLN e o número de administradores.

DIAS LOUREIRO SOB PRESSÃO

Manuel Dias Loureiro, ex-administrador da SLN e do BPN SGPS, tem estado sob forte pressão para apresentar a renúncia ao cargo de conselheiro de Estado.

Face à garantia de Dias Loureiro que não cometeu ilegalidades no Grupo SLN, Cavaco Silva já disse que não há razões para o seu ex-ministro renunciar ao cargo. Mas várias vozes à esquerda e à direita do espectro político têm exigido a renúncia de Loureiro. Ontem, Ângelo Correia apoiou Loureiro ao dizer que "não há evidência [de irregularidades] até que qualquer tribunal decida".

FALÊNCIA SALVA COM MIL MILHÕES

A nacionalização do BPN já obrigou a Caixa Geral de Depósitos (CGD), instituição responsável pela actual gestão do banco, a injectar naquela instituição bancária um total de mil milhões de euros.

O novo responsável do BPN, Francisco Bandeira, que é também administrador da CGD, já disse que, neste momento, a situação financeira do banco está controlada.

O QUE DIZ A LEI

IMUNIDADE

Os membros do Conselho de Estado não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções.

INVIOLABILIDADE

Nenhum membro do Conselho pode ser detido ou preso sem autorização do Conselho, salvo por crime punível com pena maior e em flagrante delito.

DIREITOS

Os membros do Conselho não podem ser peritos, testemunhas ou declarantes sem autorização do mesmo.

PORMENORES

PATRIMÓNIO

O património de Oliveira e Costa vale 6,5 milhões de euros.

DIVISÃO DOS BENS

A mulher herdou os prédios e as quintas, os depósitos a prazo e as acções de empresas cotadas.

DETENÇÃO

Oliveira e Costa está detido desde 21 de Novembro. É acusado de sete crimes, entre os quais burla qualificada.

SAIBA MAIS - BRASIL

A ERGI Empreendimentos, promotora imobiliária brasileira do grupo SLN onde o BPN injectou 230,6 milhões de euros através do Banco Insular, foi vendida em 2006 sem que esta dívida tenha sido paga, de acordo com a Lusa.

700 milhões de euros é o valor do buraco no BPN, que foi identificado pelo Banco de Portugal e que levou o Governo a decretar a sua nacionalização.

65,4 milhões de euros foi o resultado negativo com que fechou o terceiro trimestre o Banco Português de Negócios (BPN).

INVESTIGAÇÃO

O Banco de Portugal e o Ministério Público estão a investigar os indícios de alegadas irregularidades cometidas pela anterior gestão do grupo SLN/BPN.

 NOTAS

CDS: PORTAS LANÇA DESAFIO

O líder do CDS-PP, Paulo Portas, desafiou ontem Dias Loureiro a não invocar a sua qualidade de conselheiro de Estado para evitar depor num dos processos judiciais do caso BPN

PS: INQUÉRITO SÓ AO BANCO

Os socialistas querem que a comissão de inquérito ao processo do BPN se centre na gestão de Oliveira e Costa e não no governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio

MOÇÃO: NEVES DESAFIA

O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria das Neves, negou ontem qualquer envolvimento no caso BPN e desafiou a oposição a apresentar uma moção de censura ao governo

 

 

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