20/11/2008

Banco Privado Português é a primeira instituição a recorrer à garantia do Estado

E vão dois!!!

 

20.11.2008, Cristina Ferreira (Publico)

O pedido do banco liderado por João Rendeiro foi entregue há cerca de uma semana no Banco de Portugal e prevê o aval do Estado para um financiamento de 750 milhões de euros

O Banco Privado Português (BPP), liderado por João Rendeiro, pediu ao Governo uma garantia estatal para poder solicitar um empréstimo de 750 milhões de euros destinado a repor a liquidez de que a instituição necessita para desenvolver a sua actividade. O BPP, que funciona como um gestor de fortunas, é o primeiro a pedir "auxílio" do Estado para se poder ir financiar nos mercados internacionais e está disponível para trocar posições accionistas com outros bancos.

O pedido de aval no valor de 750 milhões de euros foi entregue por João Rendeiro no Banco de Portugal há cerca de uma semana, apurou o PÚBLICO, e é o primeiro que foi recebido pelo supervisor. A informação do PÚBLICO foi confirmada por um responsável do BPP.
A autoridade presidida por Vítor Constâncio solicitou informação adicional a Rendeiro e ainda não enviou para o BPP a sua decisão, que está dependente do parecer favorável do Ministério das Finanças. Constâncio terá também de definir qual a alocação que fará da linha de garantia pessoal do Estado criada pelo Governo, no valor de 20 mil milhões de euros, de modo a determinar a percentagem que caberá a cada instituição do sistema nacional. A verba destina-se a ser usada até final de 2009 pelos bancos a operarem em Portugal. O objectivo é assegurar que, no acesso aos mercados de financiamento internacionais, o sector não fique em condições desfavoráveis face aos restantes congéneres.
O BPP funciona como um gestor de activos e de fortunas (com dois mil milhões de euros de activos sob gestão) e não tem banca de retalho comercial (não recebe depósitos normais nem concede créditos). A sua finalidade é gerar resultados para os accionistas e clientes (investir o dinheiro que estes entregam) nos mercados bolsistas internacionais que estão a sofrer fortes desvalorizações. O BPP tem alicerçado o seu desenvolvimento no segmento de fundos de private equity (de altíssimo risco), geralmente muito alavancados num único investidor e direccionados para um número reduzido de títulos. Com um capital de 125 milhões de euros, o funding do BPP é obtido junto dos mercados de curto prazo (venda com acordo de recompra) e que se encontram encerrados. É neste quadro que Rendeiro também tem estado a negociar com o CitiGroup um empréstimo de 500 milhões de euros, e que está dependente agora do aval do Estado.
Nos últimos dias o BPP viu a sua notação de crédito revista em baixa pela agência de notação internacional Moody's. A classificação da dívida de longo prazo da instituição baixou de Baa3 para Ba2 e o rating para medir a força financeira do banco liderado por João Rendeiro desceu de D+ para D. A Moody's justificou a sua decisão pela participação do BPP em veículos de private equity, detidos por clientes e pelo grupo e pela posição de 18,5 por cento que o banco possui na Privado Financeiras (PF). A PF detém 2,33 por cento do Banco Comercial Português, o que reforça a exposição do BPP ao risco de mercado, pois o título do maior banco privado português caiu cerca de 70 por cento no último ano.
É neste contexto de crise internacional e de depressão prolongada dos mercados que se explica a disponibilidade de João Rendeiro, e de outras instituições financeiras (em especial bancos que não recebem depósitos, o que dificulta o acesso à liquidez), para conversar sobre um eventual cruzamento (ou aquisição) de posição accionista. Esta solução não foi negada por fonte do BPP, que conta entre os seus accionistas com Francisco Pinto Balsemão, Diogo Vaz Guedes, a FLAD, Joaquim Coimbra (grande accionista da SLN/BPN), Saviotti e o próprio João Rendeiro.

 

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