18/09/2005

(Ao fim e ao cabo) A Confiança

Vicente Jorge Silva

Como a escolha entre o desgastado Schroeder e a frágil sra. Merkel é tudo menos entusiasmante, há o risco de não sair uma maioria de governo das eleições alemães (a não ser que a CDU e o SPD reconsiderem a recusa de uma "grande coligação"). Ora, uma crise política na Alemanha implica o agravamento da situação económica e social interna e do estado comatoso da União Europeia, para não falar dos efeitos corrosivos que terá em França, onde as divisões e rivalidades no seio das grandes famílias políticas nunca foram tão agrestes como hoje. Dividida está, aliás, a direita alemã por causa do imposto único preconizado pelo putativo ministro das Finanças da sra. Merkel, Paul Kirchhof, que se tornou o involuntário protagonista das polémicas eleitorais. Eis um sintoma do afunilamento caricatural do debate político não só alemão como europeu, quando estão em jogo questões tão decisivas e estruturais como o modelo económico e o estado social dos último meio século. Vê-se a árvore, mas evita-se ver a floresta. O clima de incerteza ameaça por isso perdurar, mesmo que o bloco conservador acabe por conquistar a maioria na Alemanha. Entretanto, vai-se generalizando e aprofundando a crise de confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. Um recente estudo mundial da Gallup para a BBC revela que uma grande maioria dos inquiridos não considera ser governada pela vontade popular. Ora, é sobretudo dessa crise de confiança que também padecemos em Portugal, enquanto se corre o risco de transformar as eleições presidenciais numa tábua de salvação entregue a homens providenciais. Usa-se e abusa-se da infantilização do eleitorado, como parece ser o segredo da estratégia do "tabu" de Cavaco Silva - que porventura ainda acabaremos por ver anunciar a sua candidatura a 24 horas do início da campanha para que o efeito da aparição se torne ainda mais miraculoso.

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