18/09/2005

Não basta ser. É preciso parecer!

helena sacadura cabral

Acompanhar os acontecimentos da vida política brasileira dá algumas vertigens, mas tem a vantagem de ajudar a perceber melhor aquela terra e a compreender, também, alguns episódios da nossa. Devo confessar que sou fã de Diogo Mainardi, colunista da revista Veja e colaborador do programa televisivo Manhattan Connection, que, entre nós, é exibido pelo GNT, na madrugada das segundas-feiras. O humor cáustico deste jornalista é imbatível na análise da sociedade carioca e, em particular, na actuação de Luís Inácio da Silva, o metalúrgico que chegou a Presidente da República. A sua palavra é temida e respeitada pela frontalidade com que a usa e a independência com que aborda os temas de que se ocupa. As linhas que se seguem foram buscar informação aos seus escritos. Não há grandes dúvidas que os mais desfavorecidos e a esquerda intelectual depositaram em Lula da Silva todas as suas esperanças. Este, por seu lado, soube rodear-se de uma equipa económica responsável, que prosseguiu e melhorou o caminho que Fernando Henrique Cardoso havia iniciado.Assim, apesar de politicamente arrasado, o país consegue, na área económica e financeira, atravessar um período de crescimento e solidez. Só que, como várias vezes tenho referido nesta coluna, a economia submete-se mais à política do que o contrário, e esta, pesem embora toda as ilusões que atrás referi, dificilmente irá, nos tempos mais próximos, recuperar a moral agora perdida.De facto, o Partido dos Trabalhadores, o PT, como é conhecido, prometeu basear toda a sua actuação na transparência e na ética, defendendo que a res publica tinha de ser respeitada, numa clara alusão crítica ao modo como os outros partidos se comportavam.Ora depois do escândalo do mensalão, do qual Lula tenta, por todos os meios ao seu alcance, livrar-se, o mundo acaba de conhecer uma nova saga, agora familiar, igualmente deplorável, sobretudo por parte de quem tinha a pretensão de dar o exemplo!De facto, já eram conhecidas algumas extravagâncias da primeira dama, cujos gastos a imprensa não se cansava de criticar. Neste momento é a vez de serem publicitadas as proezas dos seus cinco filhos. O mais novo, Luís Cláudio, não se livra de ser recordado por ter utilizado um avião das Forças Aéreas Brasileiras, as FAB, para levar um grupo de amigos até ao Palácio da Alvorada, com tudo pago, mas não por ele...O irmão mais velho, Marcos Cláudio, que integrava o departamento de marketing do Sindicato dos Metalúrgicos, é casado com Carla Ariane, que recebia uma avença da prefeitura petista de Mauá, neste momento objecto de acusação de desvio de dinheiro.Um outro filho, Sandro Luís, recebia do PT um salário de 1522 reais para não comparecer no emprego, importância, aliás, aproximada da que recebia Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do Partido, para não comparecer como professor em Goiás.Outro dos rebentos, Fábio Luís, associou-se à Telemar, empresa que foi posteriormente acusada de favorecimento político. Perante tal libelo, Lula limitou-se a declarar que "não tinha de se meter nos negócios do filho". Esquecendo, claro, que essas operações envolviam o erário público.Por outro lado, Jacó Bittar - pai dos dois sócios de Fábio Luís -, era conselheiro da empresa Petros, por sua vez sócia da Telemar. O que poderá configurar, na prática, que Bittar terá comprado a firma dos seus filhos e do filho do Presidente, com dinheiro dos contribuintes.Lula parece, afinal, não se distinguir dos restantes políticos - quando se sentem acossados -, ao qualificar de "baixaria" as reportagens feitas sobre os filhos, numa clara demonstração de que não distingue o que é certo do que é errado. E não percebe que quem exerce um cargo como o seu não pode considerar-se um cidadão qualquer. Nem, tão-pouco, a sua família. Por outras palavras, a vida privada da figura que encarna o país é praticamente inexistente. Quem o não entender fará melhor em não trilhar tal caminho, que limita não só a vida dos próprios como a daqueles que lhe estão próximos, por mais injusto que isso seja. Em política, hoje, como no tempo de César, não basta "ser". É, também, preciso "parecer".

1 comentário:

Anónimo disse...

Você tá merecendo cadeia pelas inverdades que terá que provar em juízo.

abraços